Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese




ONLINE
1


Partilhe esta Página


luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

ARES /MARTE
ARES /MARTE

ares

ARES /MARTE


Zeus e Hera foram, de fato, os pais de Ares e da sua irmã gêmea em tudo, Eride, mas assegura-se que em breve se arrependeram de ter trazido semelhantes criaturas para o Olimpo. Alguma outra lenda cita a casta Atena como mãe partenogenética de Ares, mas não é um mito demasiado admitido pelos ortodoxos. Homero assegurava que Zeus e Hera tiveram que odiar o seu filho e, na "Ilíada", só se mostra este deus como a um ser desprezível pelos seus fatos e pelas suas paixões bélicas, podendo-se encontrar na obra inesquecível um surtido de exemplos da sua desprezabilidade aos olhos dos deuses e, inclusive, aos dos mais humildes mortais. Os dois grandes, Zeus e Hera, também tiveram outros filhos de diversas laias, como Hebe e Hefesto, embora haja quem assegure que Hefesto, o ferreiro dos olímpicos e amigo dos fogos interiores das entranhas da terra e das suas bocas -os vulcões- só era filho de Hera e Zeus não tinha nada que ver com o rapaz. De todos os outros parentes, só Afrodite e Hades tinham relações com Ares e bem estranhas, pois -ao parecer- era mais do que nada uma perversa paixão entre Afrodite e Ares a que os mantinha próximos, e também era esse perverso sentido de agradecimento profissional o que fazia com que Hades, nos seus infernos, estivesse sempre disposto a agradecer os contínuos envios de mortos em combates que Ares proporcionava sem cessar ao seu companheiro encarregado da gestão dos negócios de ultra-tumba.


ARES E COMPANHIA

Está claro que Ares não gozou, nem sequer, do carinho dos seus pais e também não chegou a poder fazer-se compreender entre os seus muito complicados companheiros do céu, entre os quais havia todo esse surtido tão surpreendente de caprichos e raridades que configuram a teia-de-aranha mitológica. Embora a maldade ou a crueldade de Ares não seja única, também não é um caso de atuação em solitário, pois os gregos colocam Eris ou Eride, a irmã, junto de Ares na mesma escala de malícia. É ela quem difunde a discórdia entre os deuses e os humanos, porque ela representa a discórdia.

A sua tarefa é a elaboração de rumores, de maquinações, de ciúmes. O seu trabalho consiste em fazer que as más artes da sua imaginação e a sua experiência, essas mensagens voluntariamente envenenadas, se transformem em causas remotas de guerras e de ódios, como sementes bem colocadas pela insana habilidade da sempre presente irmã. Também Ares faz o possível por encher o vácuo e combina astúcias para aumentar o mal. Junto deles vai sempre o sinistro grupo dos seus filhos respectivos, formado por Ênio, a filha de Eride, divindade da guerra, e os dois filhos de Ares: Deimos, escudeiro de Ênio e personificação do espanto, e o outro escudeiro de Ênio, Fobos, a representação do medo. Há que dizer que tão má era a fama dos irmãos guerreiros Ares e Eride, que os gregos adjudicavam ao casal uma origem trácia para sublinhar que se tratava de deuses próprios da gente da longínqua Trácia, uma comarca rústica e primitiva, como se assim sacudissem de cima deles a responsabilidade de aceitar no Olimpo umas divindades tão pouco felizes, tão pouco dignas de serem atenienses.


A AVENTURA COM AFRODITA

A bela Afrodite, já se disse, era atraída e repelida pela figura discutida do seu compadre Ares; era uma estranha relação a que os manteria próximos em muitas ocasiões. Mas, especialmente, uma dessas situações recordadas para a eternidade é a que se produz quando o casamento de Afrodite com o deforme Hefesto estava no seu declive. Hefesto era o feliz e orgulhoso esposo da bela entre as belas, e quis o destino infeliz, para desgraça do laborioso e bondoso Hefesto, que Ares se apaixonasse por Afrodite e que esta lhe correspondesse. Os amores de Ares e Afrodite foram longos, tanto que os três filhos havidos no tempo do casamento com Hefesto o foram da infidelidade. Estes filhos eram nada menos que Deimos e Fobos, os dois escudeiros que teriam de acompanhar Ares à batalha, e a gentil Harmonia. Mas o adultério terminou por descobrir-se por um excesso de confiança do irregular casal e, quando assim foi, o marido troçado recebeu a mensagem de um espião do Olimpo, Hélios, deus do sol, que teve a ocasião de surpreendê-los dormindo tranquilamente à luz do amanhecer. O marido, sempre apaixonado pela sua adorada Afrodite, reagiu de um modo muito peculiar e, em lugar de sair irado ao encontro de Ares e Afrodite, inventou um plano para apanhá-los em flagrante delito; se o que se conta é certo, há que reconhecer que Hefesto recorreu a um ardil trabalhoso e excessivamente complicado. Elaborou na sua forja uma rede de metal fina e tão resistente que nem o temível Ares a podia partir, e dispô-la no leito do seu lar, de modo que quem nele se deitasse ficasse apanhado irremissivelmente até a chegada do único que sabia da sua colocação e funcionamento. Para assegurar-se do estranho triunfo da sua cilada, Hefesto fez saber a Afrodite que passaria um extenso período de tempo fora de casa, na ilha de Lenos, e que demoraria em regressar. Naturalmente, a infiel esposa alegrou-se da singular ocasião de gozar sem pressas da companhia do seu amante Ares e, assim que o marido partiu para a sua astuta viagem, chamou a seu lado o adúltero deus, para continuar com o seu já duradouro romance nas insuperáveis condições que a partida de Hefesto pareciam propiciar. Felizes por estarem sem preocupações por um possível retorno do marido, os dois foram diretamente para o quarto onde Hefesto tinha preparado a cama com a sua cilada.


APANHADOS E À VISTA DE TODOS

Lançados na sua paixão, os dois desavergonhados ficaram apanhados pela rede que se disparou sobre os seus nus corpos. Quando Hefesto regressou a casa, lá estava o casal e ele, sem perder tempo em considerações, mandou reunir o tribunal excepcional dos deuses. As deusas não quiseram saber nada daquela situação ignominiosa e deixaram que fossem os homens os que vissem e decidissem como terminar aquela embaraçosa disputa. Hefesto pedia a dissolução do casamento e a devolução do que tinha pago a Zeus pela sua filha, este não queria saber nada de repúdios e também não estava nada contente com o método público empregado pelo seu genro; logicamente, pensava que as infidelidades se deviam discutir dentro do recinto familiar: era ele o menos adequado para falar perante os outros dessas questões que tantas dores de cabeça tinham proporcionado com Hera e com tantas outras deusas ou mortais.

Entretanto, perante a beleza revelada de Afrodite, os deuses comentavam com ironia a excelente sorte de Ares, apesar da impertinente malha, e não faltava quem fizesse ostensíveis declarações de querer estar no seu lugar, embora fossem apanhados de tal maneira. Por fim Possêidon, cansado do espetáculo e do que ouviar, propôs que Ares restituísse o dote pago por Hefesto para recuperar a sua liberdade, e em caso de que este não quisesse fazer honra à dívida contraída com o seu comportamento, algo que o marido temia, ele, Possêidon, estava disposto a supri-lo e a casar com a infiel Afrodite para resolver o pleito e deixar que as águas voltassem ao seu leito. Naturalmente, Ares não pagou nada pela sua liberdade, e Afrodite, cansada do seu acompanhante, decidiu provar novas aventuras, agora que tivesse apaixonado uma boa parte dos que a tinham visto em todo o seu esplendor.


OS CIÚMES DE ARES

Muito tempo depois, quando já Afrodite tinha passado muitas noites por outros muitos leitos dos céus e da terra, Perséfone, dolorida por sua vez por algo muito grave que Afrodite lhe tinha feito com o seu adorado Adônis, foi dizer a Ares que a ligeira e leviana deusa do amor estava muito mais apaixonada pelo belo e mortal Adônis do que por ele, soberbo e divino. Os ciúmes se apoderaram imediatamente do terrível Ares e a sua fúria arrastou-o a tomar a forma de um javali e, sob este aspecto, dirigiu-se para o monte Líbano, onde Adônis estava caçando, na companhia de Afrodite, ambos totalmente ignorantes do triste fim que Ares daria aos seus dias de esplendor. À primeira acometida, Adônis foi furado pelas despiedadas facadas que davam os terríveis dentes do javali em cio e o seu sangue regou os campos do monte, fazendo nascer anêmonas tão vermelhas como ele. Mas Ares não conseguiu terminar com o amor entre Afrodite e Adônis, muito ao contrário, dado que a bela e apaixonada deusa conseguiu da compaixão do seu pai Zeus que o infeliz amante ressuscitasse todos os estios, deixasse as trevas do Tártaro e pudesse passar os seis melhores meses do ano, os mais cálidos e apetecíveis do Verão grego, na amorosa e eterna companhia de Afrodite. Como sempre, Ares terminava por encontrar-se com a adversa sorte operando em favor dos seus rivais, e tinha que voltar a comprovar mais uma vez que, fizesse o que fizesse, perdia sempre, nessa e em todas as suas restantes empresas, corroborando o pouco apreço do Olimpo pela sua figura.


O PAR REJEITADO

Com esta laia, não é de admirar que os diferentes moradores das alturas também tratem de afastar-se de Ares e a sua irmã. Em qualquer ocasião em que os divinos enfrentam Ares, os outros companheiros olímpicos põem-se contra ele. Na única ocasião em que Ares se submete ao tribunal dos pares é porque foi acusado por esse mesmo tribunal, não porque ele queira levar os seus assuntos à magistratura divina. E o desenvolvimento do julgamento é um assunto pouco claro. Trata-se de responder à acusação de assassinato. O morto era o jovem Halirrotio, um impulsivo filho de Possêidon e a causa dessa morte estava em que Halirrotio tinha violado Alcípe, filha de Ares e este só tinha agido com o direito que lhe assistia de vingar o atentado pela sua mão. A conclusão da causa aberta contra o violento deus não podia ser outra que terminar por absolver o réu da acusação de assassinato por falta doutras provas contra a sua asseveração, dado que o falecido não podia apresentar-se para refutar a alegação e nem o pai vingador nem a filha violada iam contradizer-se. O assunto ficou totalmente resolvido com a sentença absolutória, e já nunca mais Ares passou por uma corte de justiça olímpica, nem para reclamar direitos nem para procurar compensações a danos ou lesões, dado que ele não era dos que tratavam de procurar arbitragem, senão de tentar impor sempre -pela força e pela violência- a sua especial forma de ver a história, sempre com as armas no primeiro plano e a morte alheia como único e grande aliciante da sua existência.


UM PRESENTE MUITO PRÓPRIO DE ARES

Hipodâmia era a filha muito querida do rei Enomau de Pisa, na Elida; a princesa devia ser atraente, além de desejável pela sua hierarquia e posição, dado que eram muitos os que se arriscavam à dura prova imposta pelo rei para todos os ousados que se atreviam a tentar alcançar a pretensão de conseguí-la. O rei Enomau, por alguma razão que não se conta, tinha recebido uma presente muito especial do seu amigo, o violento Ares. A prenda era um casal de cavalos imbatíveis que o deus lhe tinha oferecido para que, sempre que os utilizasse, o rei saísse vencedor sobre os seus oponentes. Naturalmente, dada a qualidade de Ares e os seus amigos, não se tratava somente de ganhar ou perder uma corrida eqüestre. Se alto era o prêmio, a posse da princesa, mais alto era o preço da derrota, dotado com a inapelável condena à morte do desgraçado pretendente de turno. Como se pode comprovar pelo relato, a classe de presentes que Ares oferecia levava a sua marca pessoal e os amigos escolhidos para tais obséquios também não eram dos que sentiam muitos escrúpulos pelas vidas alheias.


PÉLOPE E HIPODÂMIA

Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sangüinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras.


O SARILHO DE TRÓIA

Para começar, deve esclarecer-se que Tróia existiu e que o seu descobrimento foi tardio, quando ninguém suspeitava que a história pudesse ter alguma relação com a mitologia. Mas muitos estudiosos, sobretudo após a verificação de que essa cidade das margens do Helesponto existiu, trabalharam na análise a fundo dos mitos clássicos, para chegar à sua essência, como é o caso do trabalho historiador do próprio Robert Graves, um dos mais destacados que coincidiram interpretar toda a mitologia básica helenística como uma explicação herdada da história não escrita dos diversos povos que depois dariam forma ao conjunto grego. Tróia era uma cidade próspera e muito bem situada, um encravamento perfeito para o comércio entre os dois lados da embocadura do Mar Negro, entre a Europa e a Ásia e, também pela mesma causa, um ponto estratégico cobiçado pelas diferentes etnias e tribos que queriam conseguí-la. Foram descobertas dez ruínas diferentes de Tróia, sobrepostas, e todas elas amostras dos conflitos originados pela sua posse e controle.
A Tróia da qual nos fala "A Ilíada" deve ser a que corresponde à sétima camada de restos. A guerra de Tróia que nos contam Homero, Esquilo, Eurípides, Apolodoro, Sófocles e, de Roma, Virgílio, é um fato certo, embora se tenha maquilhado o seu aspecto com diferentes ornatomentos de exemplaridade, crueldade, heroísmo ou absurdo. Com a sétima destruição de Tróia e a consecução da hegemonia de Atenas sobre o comércio do Mar Negro, os gregos asseguraram o poder total sobre a sua zona de influência. Foi um ato importante essa guerra e, no entanto, Ares, deus da guerra e responsável em boa medida do acontecido, não sai nada bem descrito do relato; antes pelo contrário, a guerra é mostrada sob o prisma da sua falta de razão, sobretudo nas palavras de Eurípides, que vem repisar o monstruoso conceito da luta entre os seres humanos, e qualifica de absurdas e desnecessárias as mortes de soldados e civis, não só no caso troiano, mas em quaisquer outras guerras que se tenham conhecido ou se vão conhecer no futuro. Também Homero trata, em "A Ilíada", com especial desprezo o nada estimado deus Ares, e não duvida um segundo em qualificá-lo como um personagem ignominioso, que desconhece a piedade para com os outros, sem ser capaz de obedecer à mesma regra quando as coisas se voltam contra ele; para ele, Ares é simplesmente um homicida, o que está banhado no sangue das suas vítimas, ao qual todos os homens dedicam as suas justificadas maldições. Ares é também para Homero um deus covarde no combate, incapaz de suportar o terror que semeou no campo de batalha; um ser pouco nobre, que prefere a fuga antes que responder pelo mal causado.


ROMA E MARTE

Em Roma, como antes na Grécia, Marte tinha começado a ser uma divindade camponesa. Se na Grécia tinha sido protetor dos gados, em Roma o era dos cultivos, mas afinal, e transformado em senhor da guerra, o que possa restar do Ares grego perde a sua carga negativa e passa a incrustar-se na couraça do venerado deus Marte, como pai de Rômulo e Remo, ou como filho de Juno. Sob a sua advocacia se constróem as zonas militares, os campos de Marte. As tropas já são marciais, como sinônimo de virtude castrense. As conquistas são a forma apropriada de expandir o império e as vitórias se celebram para sempre como fundações das novas bases de partida para o renovado mundo latino. A das armas é uma das grandes e nobres carreiras dos cidadãos de Roma, se não a primeira, e por isso o grande deus Marte, junto com a sua imprecisa companheira Belona como condutora dos seus carros de guerra (a antiga Ênio dos gregos), se converteram em divindades muito positivas e muito exemplares a partir do reinado de Numa Pompílio, quando o deus lhe fez chegar à terra o seu escudo de bronze, como sinal do seu apoio na guerra. O escudo sagrado e outras cópias idênticas, para evitar que alguém pudesse roubar a peça divina e terminar com Roma, são guardados pelos sábios, os encarregados de manter o império a salvo da desgraça. Agora acompanhavam-os Pavor, Pallor (a palidez), como antes o tinham feito Deimos e Fobos na sua terra de origem. Também estavam no cortejo marcial Honos (a honra), Pax, Vitória, Vica Pota (a que arrebata) e Virtus, numa comitiva que descreve muito precisamente a perfeita máquina de guerra e de absorção que o império tinha montado, não só para apoderar-se de novas terras, mas também para fazer-se respeitar e admirar dentro dos territórios conquistados. Embora Marte seja o protagonista, a presença da paz faz com que a vitória não seja humilhante, ao passo que a existência da honra e da virtude vêm compensar os dolorosos efeitos do despojos arrancados aos vencidos. Quando Virgílio conta a guerra de Tróia, volta a aparecer o magnífico Marte em lugar do pouco querido Ares, e a sua presença é suficiente para que se faça automaticamente a exaltação das virtudes militares, dos combates heróicos; nada resta da postura distanciada e crítica dos autores gregos perante a guerra, frente a qualquer guerra dos mortais. A frase latina mais reveladora da necessidade duma classe militar é: "si vis pacem para bellum" (se queres a paz, prepara a guerra) e esse conselho terminou por ser a medula de toda a política humana até os nossos dias.


JANO, DISPOSTO A ACABAR AS GUERRAS

Em Roma, Jano ocupava um posto muito especial, pois era a divindade latina por excelência, a que se encarregava de começar e acabar todas as coisas, até as guerras. Jano estava encarregada das portas e o seu mês era o primeiro do ano. Quando se iniciava um conflito, abriam-se as portas do seu templo, do lugar edificado pelo próprio Numa Pompílio que recebeu o escudo de bronze de Marte, e estas ficavam assim até se ter terminado por alcançar a vitória ou assinar a paz com o inimigo. Jano tinha ido ao campo de batalha com o seu povo e, até estar de novo em casa, não se devia fechar o acesso à sua morada sagrada. Quando os sabinos, que queriam vingar-se a toda a custa do rapto das suas mulheres pelos romanos, tentaram forçar as portas das muralhas romanas, Jano, como pai de tudo o que começava no solo terrestre, fez brotar do chão um manancial poderoso e nauseabundo que afastou a tropa inimiga.
Aqui, nesta lenda, se pode compreender melhor que a sua missão era afastar o perigo, não de castigá-lo. Os sabinos estavam justamente indignados e Jano limitou-se a pô-los em fuga com um dos seus estratagemas incruentos. Jano, além disso, tinha uma personificação muito peculiar: a de um deus com duas caras sobre uma única cabeça. Jano era o deus bifronte, o que olha por nós no passado e no futuro ao mesmo tempo, para prevenir o futuro e recordar sempre a lição da história. Jano era muito mais do que a divindade auxiliar de Marte: era o contraponto à atrocidade da guerra, à soberba dos contendentes e dos seus altivos generais, e por isso os seus fiéis lhe pediam que nunca se abrissem as portas do templo. Em tempos de Augusto, o pacificador, o seu templo foi restaurado, tal era a importância que a sua tarefa significava para a nova etapa de pacificação de toda a órbita imperial.


ALQUIMISTAS, ASTRÔNOMOS E FANTÁSTICOS

Para os alquimistas, Marte, o planeta vermelho que levava o nome do Ares latinizado, era também o símbolo do ferro, por ser o ferro a essência das armas da guerra. Para os astronomos, o brilhante planeta próximo era só mais um mistério, até que Schiaparelli julgou ver canais nas desfocadas imagens do seu telescópio refrator, o que se traduziu em obras artificiais que demonstravam a existência de vida inteligente. Lowel, poucos anos mais tarde, também nos finais do portentoso século XIX, seguiu a rota da visão intencionada e deu ainda mais dados sobre a civilização marciana. No final da intensa série de crentes na nova vida interplanetária, os escritores da nascente e popular ciência-ficção do nosso século terminaram por estabelecer em Marte a morada típica dos outros seres pensantes e, está claro, fizeram deles uns guerreiros do espaço, como os que contava Rice Borroughs.

De lá, da sua base em perigo de extinção pela seca crescente, acabaram por reparar na terra azul e úmida e finalmente, e nos invadiram com a ajuda de H. G. Wells e, muito mais vividamente, com a colaboração do rádio, no meio da mais assombrosa sugestão coletiva, através das palavras angustiadas e esses efeitos sonoros montados pelo muito jovem Orson Welles, nos Estados Unidos da segunda guerra mundial. Depois, desvalorizados pela despiedada e quotidiana realidade das notícias, restam-nos os "marcianos", que são só já os divertidos e inofensivos inimigos electrônicos da máquinas ou dos computadores domésticos. Agora o planeta Marte, visitado por máquinas e conhecido pelo menos na sua superfície, só é um corpo celeste frio, açoitado por tempestades de areia, seco, avermelhado, próximo e visitável sem mais problemas do que os de organizar, econômica e adequadamente, o trânsito de passageiros e mercadorias.


MARTE NA ARTE

Um deus da guerra, forte e temível, um deus sempre armado e encouraçado, sempre poderoso e vencedor, a imagem de Marte é a que se mantém para a posteridade, uma vez que vence a divindade de Roma na luta entre as identidades grega e latina.

E vence também a caracterização que formulou Virgílio, a do heróico guerreiro, a do celestial defensor da causa justa e nobre, a de quem defende pertinazmente a pátria que nele acredita e a ele e às suas regras militares respeita. Marte converteu-se em modelo para os homens de armas e para os monarcas menos lutadores que, no entanto, se vestiam de farda de gala para acompanhar as tropas na sua primeira saída dos quartéis, embora evitassem aproximar-se do teatro da guerra, onde a missão marcial ficava nas mãos dos generais, nas armas dos oficiais ainda jovens e nas vidas da multidão de soldados sem nome, que saíam das levas forçosas ou da fome generalizada da pobreza camponesa.

Marte era um deus honrado publicamente e tudo o que se relacionava com a sua divindade e função era exaltado ao máximo. Até os mesmos manuais escolares da história de cada nação não eram mais do que um glossário das guerras ganhas ou não perdidas, enquanto se calavam muitas outras que acabaram pior para as forças nacionais. Até há muito poucos anos, os ministérios militares se denominavam "ministérios da guerra"; na atualidade, após a má consciência coletiva, os estados modernos abandonaram Marte e a guerra, e só falam de defesa, de política defensiva, envergonhados fariseicamente do seu crescente poder, embora as suas muitas e diferentes armas, conhecidas ou secretas, sejam as mais numerosas e as mais modernas. Marte voltou a ser, pelo menos oficialmente, um deus em declive e já ninguém trata de vender imagem desse deus da guerra por cima de todas as coisas. Os tempos em que os grandes e medianos reis e senhores se faziam retratar, com suas armaduras num campo de batalha como pano de fundo, já acabaram.

Agora já se conhece o poder militar e não é preciso -de maneira nenhuma- render culto ao mais vergonhoso dos ritos: Marte morreu oficialmente, embora continue vivo oficiosamente. Agora já ninguém se atreve a levantar uma estátua em sua honra, embora se faça desfilar descaradamente os exércitos em todo o seu esplendor de morte e se torne pública a impressionante panóplia que possibilita a destruição total e definitiva do nosso mundo, não uma, mas infinidade de vezes, da terra, do mar ou do ar, com um poder que nem o próprio Ares pôde chegar a sonhar para si.