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luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

ÁRTEMIS /DIANA
ÁRTEMIS /DIANA

ARTEMIS

ÁRTEMIS /DIANA


Esta adscrição a Selene (para os gregos) ou Lua (para os seus herdeiros romanos) é um fato que aparece mais tarde, quando já a imagem de Ártemis estava consolidada como rainha dos bosques, com a sua corte de donzelas prodigiosas. Quando é levada a ser divindade do satélite, se está deslocando a sua "proprietária" Febe ou Selene, uma titânida da primeira onda da mitologia primigênia, irmã de Hélios, a divindade do Sol. Por certo, que ao deslocar Ártemis para a posição lunar, o seu gêmeo Apolo também se desloca até ocupar o posto de Hélios, o que resulta plenamente equilibrado para o conjunto fraternal face à importância que têm que ocupar os dois irmãos no quadro mitológico. Mas o movimento não pára aí e Ártemis continua avançando, até encaixar também no buraco de Hécate, no lugar que antes pertencia a esta divindade da sombra da lua. Com as três personalidades, a sua identidade complica-se e já está perante os seus fiéis uma deusa com três rostos: o de Ártemis sobre a face do planeta; de Selene no firmamento, e de Hécate nas sombras eternas dos infernos. Assim, por translação, se obtém uma deidade que ocupa os mesmos três espaços que -no devido momento, e após vencer Crono- ocuparam Zeus, Possêidon e Hades, como uma segunda edição do império da época paterna, em que se teria eliminado o triunvirato a favor duma concentração total do poder. A deusa termina por ser uma poderosa criatura que tão depressa pode provocar a doença e a morte, como pode curar toda uma nação com a sua vontade. Vai-se tornando cada vez mais poderosa, mas não é Ártemis quem (naturalmente) exige esse poder total, senão que são os seus fiéis quem, com a passagem do tempo, vão reivindicando para ela, para a sua divindade favorita, o monopólio do poder, a união de todos os possíveis atributos olímpicos nas suas mãos, como prova da sua popularidade, do afeto dos seus seguidores e do encanto que despertava a deidade caçadora, a decidida mulher que vive na natureza, entre as feras e a graças dos elementos, aqui abaixo, no mesmo mundo que os humanos, dando prova de ser, apesar de tudo, da mesma madeira que nós, os filhos da terra, preocupada pelos rebentos das bestas e entusiasmada com a idéia de dar caça a qualquer animal de bom tamanho que se ponha a tiro.


QUEM É ÁRTEMIS?

Afinal de contas, a personalidade clara e concreta da donzela ciumenta da sua virgindade e defensora pertinaz da das suas protegidas se vai turvando, e chega um ponto em que Ártemis /Diana se vê tremendamente complicada, como uma manipuladora dos poderes ocultos da morte e das trevas. É a viva representação de toda a maldade possível no céu, embora então o representasse Hécate; da luz que nos orienta na noite e serve de guia para caminhantes e apaixonados, já como Selene; e a inquieta defensora de animais para proveito de caçadores, de protectora dos bosques para desfrute dos mortais.

Como ocorre com quase todos os deuses da antiguidade, o seu papel nunca fica perfeitamente definido a um ou a outro lado da linha entre bondade e maldade e Ártemis flutua, à maneira que os seres humanos sabem que eles o fazem, entre muitos matizes, sem ficar inteiramente no branco puro nem no desesperado poço sem saída do negro absoluto, ao modo das hagiografias ou das condenas totais das religiões do livro, do trio judeu-cristão-islamita. Mas também é necessário dizer que essa trindade, tão querida depois pelos cristãos, não é exclusiva de Ártemis, mas que outra das suas grandes companheiras olímpicas, Atena, também era menina que brincava à guerra com Palas, donzela vestida de peles de cabra, ao estilo dos líbios, e armada como guerreiro para as ocasiões em que a batalha era inevitável, e mulher madura e sábia, em companhia do corvo e do mocho. Três eram as estações do ano para os gregos; inverno, primavera e verão; três as esferas do Universo: celestial, terrena e subterrânea; três as fases da lua: nova, crescente e velha. O número três tinha um significado mágico, divino, e não é de estranhar, pois, que uma deidade da categoria de Ártemis fosse ascendendo pela escala do reconhecimento, até chegar a possuir, também ela, as três caras que lhe davam a categoria de máxima representação divina.


ÁRTEMIS E AS SUAS DONZELAS

Se importante é Ártemis, não menos importância tem a ampla comitiva de ninfas que rodeia a deusa. Trata-se de oitenta belíssimas ninfas, donzelas que se comprometeram com a sua deusa à virgindade, o que vai fazer despertar a curiosidade e os desejos de deuses e de heróis ao redor desta corte de jovenzinhas, de virginais meninas de nove anos, escolhidas pela própria Ártemis nas bravas águas do Oceano e nas mais mansas do rio Anisos de Creta. Naturalmente, e com a passagem do tempo, os artistas foram acrescentando anos e desenvolveram as formas das meninas primitivas, até que conseguiram fazê-las nubentes e muito desejáveis, mas isto é uma questão devida à necessidade de adequar o mito às exigências morais de cada época, dado que -fora do contexto original grego- era muito duro o que os deuses ou os humanos pudessem tentar atropelar tão inocentes criaturas, e resultava mais conveniente representar o coro de ninfas com bastante mais peso e envergadura do que as infantis virgens. Mas, antes de continuar para a frente, temos que contar a história de Ártemis, a Diana dos romanos, tal como se narra nos textos clássicos conhecidos.


OS SEUS PRIMEIROS ANOS

Zeus, no seu romance com a bela Leto, teve outro dos seus românticos raptos amorosos e encerrou o seu par, e ele próprio, na corporalidade mágica de um casal de codornas em cio. Após esse rapto poético, Leto ficou grávida; levava no seu seio os gêmeos Apolo e Ártemis. Após o idílio, e sem ter quase tempo para despedir-se do seu amante nem compreender bem o alcance do seu ato de amor, a futura mãe dos grandes deuses devia ter que fugir do ataque da ciumenta Hera, esposa legítima e verdadeira de Zeus, farta das suas histórias românticas e extra-matrimoniais. Para castigar quem tanto tinha incomodado o seu veleidoso marido, Hera lançou a serpente Píton em perseguição da horrorizada grávida, com a maldição de que não consentiria o parto em nenhum canto da terra que estivesse iluminado pelo sol. Com a ajuda do vento, Leto foi até as proximidades de Delos. Lá pariu o primeiro dos gêmeos, iniciando-se um longo processo de parto. Nascida Ártemis e já consciente do perigo que a sua inocente mãe corria, esta pequena começou a utilizar parte dos recursos da divindade e, apesar de ser somente uma menina recém-nascida, ajudou a mãe a passar para o outro lado, da terra firme para uma ilha instável.


ÁRTEMIS, PROTETORA DE MÃES E FILHOS

Este fato, absolutamente milagroso e surpreendente, de que Ártemis, nada mais vir ao mundo, empreendesse a sua tarefa, ajudando a mãe a continuar o seu destino e atravessar as águas para poder chegar finalmente à ilha de Delos, é prova de que se trata duma personalidade mitológica extraordinária. Fugindo de Píton e da conseguinte vingança de Hera, Leto coloca-se na ladeira norte do monte Cinto, a coberto da luz do sol; lá, a fatigada e assustada parturiente deu à luz Apolo, após nove dias de contrações e dores. Delos, após o nascimento do deus, ficou para sempre fixa no seu lugar e aí está, como prova tangível de que o que se conta é verdade, como tudo o que a mitologia nos relata.

Com tão complicado parto, não é de admirar que Ártemis, por ser a fêmea do par de gêmeos, fosse associada desde esse nascimento sobrenatural com as mulheres grávidas, como protectora dos partos, e que também se convertesse, por assimilação, em deusa tutelar das crias de todos os animais mamíferos e, muito especialmente, dos meninos de peito, embora não fosse tão serviçal com os mamíferos crescidos nem com os seres humanos adultos, dado que uns eram os seus alvos móveis na caça e os outros podiam converter-se em objetivo da sua especial androginia, da sua persecução terrível dos homens crescidos. Mas quase todos os personagens do Olimpo têm as suas virtudes e defeitos construídos como os humanos e vividos tão desmesuradamente como só o podem fazer eles, os deuses.

O PRESENTE DE ZEUS

Quando, um pouco mais crescida, se encontra com o seu pai Zeus, a menina pede um raro favor: ser virgem para sempre e levar arco e flechas, como leva o seu irmão Apolo. Além disso, quer ter o privilégio de ser portadora da luz, vestir uma preciosa capa de caçadora, vaidosamente rematada em vermelhos e que termina à altura dos seus joelhos; também pede uma companhia de sessenta ninfas do oceano, outras vinte do rio Anisos, cães de caça, todos os montes do Universo e, se tivesse tal vontade, qualquer cidade que quisera possuir. O pai Zeus, poderoso deus e humano personagem, acha graça na petição da menina e concede-lhe tudo o indicado; sabe que o que a menina quer para si é muito, mas isso é também um claro sinal de crescimento e o pai aceita a longa lista de obséquios e de privilégios e mostra-se ainda mais generoso, dado que lhe dá trinta cidades, para começar, enquanto que, considerando que já é suficientementemente séria para aceitar responsabilidades protectoras, a põe ao cuidado dos caminhos e dos portos do seu mundo, que é o grego, o mundo do seu reinado inicial como deusa dos montes e da caça que neles se encerra, e diz-lhe que aí não vai acabar a sua fama nem a sua glória, dado que serão muitas as cidades que se porão sob a sua proteção.


O QUE SE CONTA DELA

Após conseguir do seu pai o lote de desejos, Ártemis vai à ilha de Lipata, convidada por Hefesto, o feio deus-ferreiro. As ninfas virginais que acompanham Ártemis têm medo do aspecto dos moradores da ilha, os gigantescos Cíclopes, mas a deusa viu que os monstros estão trabalhando na sua forja, cumprindo uma encomenda de Possêidon, para puxar os cavalos do seu carro e -ao vê-los trabalhar tão habilmente- sabe que devem ser eles os que elaboram o desejado arco e a correspondente funda onde guarda as suas flechas. O arco tem que ser de prata (este detalhe, que agora significa pouco, é importante, dado que a prata era mais valiosa para os gregos do que o ouro) e ela necessita dele para esse mesmo momento, de maneira que os Cíclopes devem abandonar a encomenda de Possêidon e põe mãos à obra para que Ártemis tenha um arco como o do seu irmão gêmeo. Os ferreiros duvidam, mas a jovem convence-os com a promessa de que, assim que o arco esteja nas suas mãos, sairá caçar carne fresca e a primeira presa será para eles. A oferta é aceita e os habilidosos artesãos (encarregados também de forjar os raios de Júpiter no Etna, em Sicília, na mitologia romana) realizam o precioso arco para a caçadora. Realmente, mais do que a peça prometida, o que move os Cíclopes a trabalhar tão rapidamente é a ordem recebida do seu superior de que qualquer desejo da jovem seja atendido imediatamente e com exatidão.


A SUA PRIMEIRA CAÇA

Da ilha, Ártemis salta para Arcádia, deixando atrás às suas infantis e assustadiças ninfas, indo com o seu arco preparado para abater qualquer peça que se ponha a tiro. Lá encontra-se com Pã, e este proporciona-lhe uma matilha, com os dez melhores cães de caça que se podem conseguir no planeta. Empreende a marcha e captura durante o caminho um par de belas corças que vão servir-lhe de esplêndida e insólita força para puxar o seu carro, construído em ouro. Já apetrechada, preparada a matilha que Pã lhe ofereceu, as corças unidas ao carro de ouro e o seu arco de prata tenso e pronto para a caça, vai para o monte Olimpo, para iniciar a sua vida de deusa adulta. No monte, Ártemis ensaia o arco e dispara duas flechas contra as árvores; mata uma besta selvagem com a terceira; ao quarto tiro alcança uma cidade impura. Com os quatro tiros do seu arco, o que também é emblema da Lua em quarto crescente, a jovem Ártemis abriu a panóplia das suas faculdades divinas.

São quatro flechas com as quais assentou o seu poder sobre os bosques e os animais. Poder sobre a vida e a morte dos seus patrocinados, enquanto que, de passagem, recordou que também as cidades foram postas sob a sua tutela e vigilância, por ordem expressa e generosa do pai Zeus. Terminada a sua primeira expedição, Ártemis dá a volta e ordena à sua tropa animal o regresso à Grécia, para reunir-se com as suas ninfas, contar-lhes o resultado e dar repouso às suas corças, que recebem das gentis donzelas nada menos que o trevo dos campos privados de Hera; o trevo que dá a força e assegura o crescimento instantâneo aos animais que o comam. É o reconhecimento total ao seu reinado apenas começado sobre a face da terra.


PROBLEMAS COM OS HOMENS

Mas esta bela mulher e as suas não menos esplêndidas acompanhantes vão sempre sofrer o acosso dos varões, divinos e humanos, que passam pelo seu lado ou se aproximam maliciosamente. Como sucede com Calisto, uma das oitenta ninfas concedidas por Zeus à sua filha. Esta jovem é filha do rei Licaon de Arcádia, mas a sua hierarquia importa pouco em caso de desobediência a Ártemis, que não é uma tímida donzela, senão a personificação de todos os poderes possíveis, e já se pode imaginar o final de qualquer desobediência. Até com o seu pai bem amado, quando Zeus se abate sobre Calisto e consegue o seu propósito, a irritação é tremenda e a sedução da donzela é castigada terrivelmente, dado que não pode levantar-se contra o deus supremo. Ao parecer, após os amores da jovem com o deus, ela aparta-se da sua deusa e das restantes ninfas, tentando ocultar essa inquietante curva que se desenha perigosamente no seu ventre. Mas ocultar-se não funciona eternamente e Calisto é levada a presença da sua deusa e chefe mais do que espiritual. Ordena-lhe que se dispa e assim, perante a airada Ártemis, produz-se a confirmação da suspeita. Ártemis, uma vez que se encontra com a infiel Calisto grávida pelo seu pai, converte-a em ursa e ordena à matilha de cães de caça que terminem com o animal. Zeus, comovido pelo fim que o seu desejo provocou, apiadada-se da ursa encantada e coloca-a nos céus a salvo da cólera da sua filha. Também se conta que a filha havida, a pequena ursa, também encontra a sua nova e eterna morada no firmamento, e que ambas, mãe e filha, são simplesmente as constelações mais próximas do norte: Ursa maior e Ursa Menor.

Ártemis não podia compreender nem justificar que uma virgem, como ela própria, faltasse à sua promessa de castidade e essa falta era suficiente condena por si própria, como para incomodar-se em julgar se a intervenção de um deus tão poderoso como Zeus não podia ter tergiversado os sentidos e a mente da sua menina Calisto. Em outras versões, é Zeus quem faz de Calisto e da sua filha duas ursas, mas que são os ciúmes de Hera, os mesmos que promoveram a escandalosa perseguição por Píton de Leto, a mãe de Apolo e Ártemis, perante outra infidelidade do seu volúvel marido. Se se quer pensar que foi assim, então a persecução da ursa, ordenada por Ártemis, estaria dentro do normal, dado que era uma peça de caça maior e nada mais, enquanto que o filho da transformada Calisto, salvo da morte pela proteção invisível da fortuna, seria o jovem Arcade, outra figura mítica e fundadora de uma povoação com raízes no Olimpo.


E CONTINUAM OS PROBLEMAS

Outro final também trágico, sob a forma de animal condenado à morte, é o que sofre o ousado Acteão, caçador que foi discípulo do afamado centauro Quíron, com motivo duma inocente incursão cinegética em solitário num terreno proibido. Dá-se a casualidade, que sempre é uma forma do destino, de que Acteão, cansado da jornada e indolentemente deitado sobre uma rocha e à beira da água, seja testemunha do banho duma maravilhosa divindade, que não é outra que Ártemis. Bem sabem os mortais o que costuma acontecer nestes casos: fúria divina. De fato assim é, Ártemis não pode consentir que ninguém a veja nua e, menos ainda, que ninguém possa contá-lo uma vez acontecido o fato e, sem duvidar um segundo, faz com que o jovem filho de Aristeu se veja convertido em veado pelo seu imisericordioso mandato, depois seja perseguido pela matilha de ferozes caes relegados por Hefesto e aumentados com a passagem do tempo até chegar a cinqüenta animais ferozes e que estes o destroçam com raiva, obedecendo a ordem da sua ama, e deixando claro que a sua imprudência é imperdoável, embora tenha sido uma situação involuntária, algo que passou porque a deusa não reparou que alguém podia estar lá, no outro lado do arroio, em Orcómeno. A horrível morte, devorado sob o aspecto do mais indefeso dos animais do bosque por um exército desproporcionado de cães assassinos, é simplesmente um aviso para o resto dos varões de qualquer gênero. Há que ter em conta que Acteão não era um pobre humano sem filiação; o jovem era o neto de Apolo e Cirene, filho do bom Aristeu; que o seu pai -o criador da apicultura- foi cuidado e protegido pelas ninfas, por essas ninfas que tanto representam para Ártemis, com especial amor, mas que tudo isso de nada lhe serviu, tendo diante de si a tremenda e enfurecida deusa nua, tão zelosa do seu pudor e do bom nome que preferiu a cruel lição antes que a justiça.


ALFEU E ENDIMIÃO. DOIS CASOS DIFERENTES

Alfeu, filho de Tétis, também caiu apaixonado perante Ártemis, mas a sua paixão não foi castigada de maneira nenhuma. Resulta que Alfeu, louco de amor pela sua dama, foi perseguindo-a por todo o litoral mediterrâneo. No final, Ártemis e as suas ninfas untaram de barro os seus rostos e o apaixonado viu diante de si um enxame de oitenta e uma máscaras de lodo, entre as quais não podia reconhecer a sonhada cara da deusa. Todas as donzelas se riram do confuso deus fluvial, que não teve mais remédio que voltar para ao seu lugar, com a convicção de que tinha sido ridicularizado. Com certeza, não parece que chegasse a notar que tinha salvo a sua pele em troca de ser gozado. Mas Ártemis tem um momento de fraqueza com o belo pastor Endimião. Um meio-irmão seu, filho do prolífico Zeus e de Cálice, a ninfa. Tão belo era que Selene só teve que vê-lo (adormecido no reino noturno da deusa da Lua) para apaixonar-se total e perdidamente por ele. Ora bem; prudente, como corresponde à sua virgindade quanto a Ártemis-Selene, a deusa limitava-se a jazer a seu lado, imóvel, beijando-o nos seus fechados olhos, até que Endimião ficou suspenso num Sono do qual nunca despertaria. Há quem diz que Endimião, temeroso de um envelhecimento que terminasse com o seu esplendor, pediu ao seu pai Zeus manter-se assim para sempre, sem mudar absolutamente nada, adormecido e sem sonhar . Pela magia do casto amor de Selene, ou pelo favor de Zeus, a advocacia lunar de Ártemis passa noites e noites na cova onde repousa o belíssimo e eterno jovem, dormindo junto do seu platônico amor, para não incorrer na falta imperdoável de atuar contra o seu voluntário voto de castidade. Para terminar, digamos que há quem afirma que Endimião, presumido e ousado, passa-se com a mal-humorada Hera e esta, tão enfurecida como é costume nela, ordena a expulsão do moço e o seu castigo ao Sono intemporário. De todas as versões que se dão do mito de Endimião e Ártemis ou Diana, sem dúvida a mais querida pelos artistas foi a de Selene ternamente apaixonada, logicamente, dado que proporciona à deusa uma dimensão sensível que a humaniza e a faz aparecer mais digna de ser querida e compreendida na sua rigidez, dado que ela também se obriga a prescindir de uma paixão, servindo de exemplo à sua corte de ninfas no Olimpo e aos seus fiéis mortais que vivem na terra.


DIANA DE ROMA

Diana, como o resto do panteão latino, recebe a influência dos deuses gregos entre os anos 200 a 100 a. C. Entram com muita força os elaborados mitos helênicos e terminam por apoderar-se da lenda local, passando a formar parte duma mistura de notas originais e importadas. Assim Diana, celebrada especialmente no mês de agosto, no dia décimo-terceiro, que é a contrapartida romana de Ártemis, deixa atrás as suas corças e se coloca junto à vaca, um animal mais doméstico, prático e familiar que o silvestre corço grego. Evidentemente, a mudança é de importância e Diana, que continua sendo uma divindade de primeira fila na sua nova residência, se transforma totalmente em divindade muito doméstica, e passa a ser protectora do povo humilde e dos menos felizes escravos, em lugar de ser a rainha e senhora das cidades por inteiro.

Num dos seus mais destacados lugares de culto romano, no templo levantado em sua honra por Sérvio Túlio no Aventino, o edifício consagrado converte-se em lugar protegido, de refúgio para todos os plebeus exaltados, para os romanos de segunda que protestam do governo da capital imperial, numa resistência cidadã à injustiça, que é o primeiro protesto popular não cruento colhidao pelas crônicas da história. A nova divindade tutelar tem pouco que ver, num caso como este, com a terrível Ártemis, tão pouco dada a apiedar-se dos adultos e, menos ainda, dos habitantes da urbe, da capital por excelência. A passagem da Grécia para a latinidade conferiu uma personalidade diferente e mais amável à deusa tripla da mitologia helenística; por isso Diana é mais recordada do que a perigosa Ártemis ou Ártemis.


DIANA NA ARTE

Escolhemos aqui a invocação latina, porque Diana é a protagonista da maior parte das representações artísticas, ao passo que a terrível Ártemis fica relegada quase exclusivamente ao seu terreno helênico. E Diana é a escolhida para as mais belas pinturas, porque se presta ao grande quadro de nus e natureza, dado que ela aparece na maioria dos casos rodeada pelas suas ninfas, como se fosse inseparável delas, compondo um fresco de irresistível beleza feminina do qual os pintores flamengos não puderamdem afastar-se e onde também se encontram todos os artistas de corte do barroco, sem poder-se negar a utilizar uma desculpa tão simples para iluminar os palácios com esses corpos exuberantes das divindades, únicas figuras femininas ou masculinas que, com a sua nudez, podiam decorar e alegrar inocentemente os salões e os grandes corredores, sem incorrer na crítica moralizante da muito inoportuna hierarquia eclesiástica. Além disso, a inclusão de faunos, sátiros, Acteões e Calistos, dá uma nota de picardia e voyeurismo que se soma também aos grandes encantos adicionais das cenas de caça, entretimento e paixão dos senhores da nobreza, com o que se consegue aumentar a carga da história pictórica, sem possibilidades de ser mal interpretada pelos outros estritos observadores. No entanto, Diana não está tão presente na grande escultura, porque o seu lugar tridimensional está, preferentemente, na porcelana e nas reproduções em fundição, como um adorno que embeleza uma estância, mais do que como uma estátua que preside uma construção ou domina um ambiente. Da trindade de invocações, permanece a de uma deusa juvenil e elástica que corre pelos seus montes e bosques, acompanhada pelos seus cães ou por suas corsas, com o arco ao ombro ou na mão, enquanto se esquece do seu poder de decisão sobre a vida ou a morte, ou do seu papel de protectora de todas as mães e dos seus filhos, dado que tem que ceder para sempre às divindades oficiais cristãs.