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luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

LENDAS DA ARGÓLIDE
LENDAS DA ARGÓLIDE

 

mito

Io vivia tranqüila junto do seu pai, o influente deus dos rios Inaco. Nada parecia poder quebrar a sua paz, salvo que era bela, e isso, como tantas outras vezes, era causa suficiente para atrair sobre a donzela a mais perigosa das curiosidades, a do sempre atento Zeus. De fato, este reparou no seu encanto e decidiu apoderar-se da jovem sem mediar compromisso matrimonial. Como sempre, o perigoso para uma virgem não era o ser possuída por Zeus, mas o fato de ser o detonador que disparava os perigosos ciúmes da airada Hera, a cansada esposa do deus supremo. Com certeza, a jovem Io sabia perfeitamente ao que se expunha, dado que, além de ser sacerdotisa de Hera e estar a par do que se devia fazer ou evitar com respeito a uma deidade dessa categoria, também devia estar imposta nos exemplos anteriores de castigo divino, dado que as horrendas vinganças de Hera eram de sobra conhecidas em todo o Universo, quer fosse na sua vertente inferior terrena ou na superior olímpica, dado que o desproporcionado do castigo o convertia automaticamente em relato que passava de boca em boca e a todos alcançava a sua notícia. Se fosse pouco o perigo, tinha que ter presente que a temível e inapelável maldição de Hera, além disso, recaía em todas as ocasiões, com certeza, não sobre o onipotente marido, mas sobre a pobre mulher amada, fosse ou não culpada de tais relações extra-conjugais (que costumavam ser involuntárias para as mulheres, na maioria dos casos). No caso de Io, não se faria exceção à regra, mas vejamos a história de Io de uma maneira mais detalhada.


UM CONJURO DE IINGE

Iinge era aquela filha havida entre Pã e Eco, e essa foi a mulher responsável pelo feitiço que provocou o desastre de Io. De fato, conta-se que Iinge lançou sobre o coração de Zeus o desejo pela bela e virginal Io, a sacerdotisa que estava a serviço da esposa do deus, da muito poderosa Hera. Zeus ficou instantaneamente apaixonado por Io e decidiu a fazê-la sua, mas a aventura ficou ao descoberto e Hera fez com que a ousada Iinge pagasse o seu atrevimento, transformando-a num passarinho trepador. Depois Hera dirigiu-se para seu habitualmente infiel marido e espetou-lhe a acusação da sua paixão, mas o deus declarou-se inocente e negou qualquer relação com a jovem. Como não estava disposta a continuar a conversa e, menos ainda, a ter que sofrer as conseqüências previsíveis da possibilidade de outra nova aventura, Hera ameaçou com uma espetacular operação de castigo a donzela e, em vista de como as coisas estavam acontecendo, Zeus transformou a sua amada numa branca bezerra branca, ou também vaca branca, para protegê-la da ira da sua mulher. A troca não foi suficiente para aplacar ou agradar a Hera e esta capturou a bezerra ou a vaca, e pô-la maliciosamente sob a custódia da pessoa mais indicada, posto que encomendou o trabalho talvez ao vigilante conhecido, ao qual chamavam Argo Panoptes (o todo olhos), dado que possuía olhos na cara e na nuca, cem, diziam uns e até mil, asseguravam outros. Indicou a Argos que aquela vaca de aspecto ordinário não era nada comúm, senão que se tratava de um animal muito peculiar que deveria ser cuidado com especial atenção, deixando-o sempre atrelado a uma árvore e sem deixar-se ver demasiado. Assim pois, a que foi Io, a bela donzela que fora pessoa de linhagem real e entregue à adoração de Hera, tinha ficado reduzida a ser só uma besta imobilizada, submetida como propriedade exclusiva de Hera. Zeus, como de costume, também não estava decidido a desistir no seu desejo e chamou Hermes para que este lhe ajudasse na libertação de Io, pois o astuto e veloz Hermes era, sem dúvida, quem melhor podia enfrentar o penetrante olhar de Argo Panoptes, de quem se dizia que nem dormindo fechava os olhos.


O RESGATE DE IO

Recebida a ordem do seu companheiro Zeus, Hermes chegou com presteza aos campos onde Argo tinha sob a sua custódia a castigada Io, quer fosse em Micenas ou em Nemeia, dado que se situa o mítico campo nos dois lugares, e lá, assim que se pousou numa árvore próxima, Hermes, que viajava transformado em pássaro para não alertar o guarda, começou a ouvir a embriagadora música da sua flauta, uma deliciosa melodia que o fez cair rapidamente num mágico transe o gigantesco vigilante dos cem olhos. Embora totalmente adormecido, não podia deixar de ser um perigo para o plano de resgate, e Hermes não vacilou em triturar a cabeça da adormecida sentinela com uma pedra, e menos ainda em arrancá-la do tronco para demonstrar cruelmente o seu triunfo, como era tão habitual nas deidades. Depois de ter acabado com o infeliz Argo, foi muito simples para Hermes levar consigo a libertada Io. Mas não podia sequer imaginar que fosse tão fácil que Hera deixasse tranqüila a que já tinha sido condenada, menos ainda quando se tinha desafiado a sua vontade, e Zeus tinha feito a sua vontade, levando na sua ação adúltera o fiel Argo a uma morte despiedada. Mais decidida do que nunca a dar uma lição definitiva ao seu marido e aos seus cúmplices de patifarias, Hera empreendeu a perseguição de Io, uma longa e obstinada perseguição que seria quase inacabável. Mas, antes de iniciar a vingança, Hera não se esqueceu de tomar da cabeça do decapitado Argo os seus olhos e colocá-los -como homenagem a quem tinha morrido defendendo os seus interesses- na cauda de um pavão, para que de lá fossem vistos com admiração e respeito por todos os mortais até ao fim dos tempos.


A LONGA FUGA DE IO

A branca bezerra que Io era agora parecia ter recuperado a liberdade, mas não tinha conseguido recuperar a sua forma humana. Estava em liberdade, mas Hera já tinha designado o seu eterno perseguidor: uma mosca grande que a iria picando em qualquer momento e lugar, como o doloroso e humilhante recordatório de que, pelo menos para Hera, ela era simplesmente uma vaca do seu rebanho. Ora bem, desde a sua libertação, Io foi percorrendo o mundo, indo primeiro a Dodona, depois à beira do mar que se chamaria como ela, em sua honra, o Iônico ou Jônico, como nós o conhecemos. Mais tarde subiu pelo rio Danúbio, chegou ao mar Negro, atravessou a Trácia para o outro lado da passagem que se chamaria também Bósforo em sua honra (pois isso é o que significa tal toponímico, passagem do boi, embora ela fosse então encantada como bezerra) e seguiu o leito do rio Hibristes, até chegar às suas fontes no Cáucaso. Regressou pela Cólquida, passou pela Ásia a caminho da Índias e deu a volta ao seu itinerário, por Frígia, Lídia, Cilícia e Fenícia, para chegar a Etiópia, numa etapa mais do seu incessante e desesperado caminhar; tudo isso para poder aproximar-se mais do seu destino definitivo, às próprias e ignotas fontes do grande Nilo, onde a esperava a definitiva libertação. Nessa região tão fabulosa como desconhecida, a pobre Io recebeu, por fim, o esperado e procurado duplo prêmio do descanso à sua martirizada fuga e a carícia salvadora do apiedado Zeus, a carícia (e bastante mais do que uma simples carícia) que lhe devolveu o seu aspecto humano e lhe permitiu começar uma nova vida, já sob o patrocínio e a tutela do bom Zeus, que se tinha decidido a ajudar a inocente donzela em tudo o que ela necessitasse.


IO, MÃE DE EPAFO

No Egito, redimida do seu castigo, Io encontrou em Telégono o marido adequado para o seu necessário casamento, dado que -grávida por esse contato salvador de Zeus- estava à espera de quem seria o seu filho Epafo, o futuro rei do Egito. Parece ser que Hera, ao conhecer o nascimento de Epafo, ordenou aos demônios Curetos que se apoderassem da criatura tão depressa nascesse e a fizessem desaparecer. Nesse momento Zeus, que estava tão atento para defender como a sua esposa para ataque, lançou uma rajada dos seus potentes raios e acabou com a ameaça dos Curetos; a atribulada Io, guiada pela mão de Zeus, recuperou o pequeno Epafo e nele continuou cumprindo-se o destino, até fazer deste filho de Zeus e da sofrida Io um personagem de estirpe real, ao que se geminou com o sagrado boi e deus Ápis, para completar o relato meio divino e meio animal da história de Io, que acabou -por sua vez- sendo identificada também com outra deidade egípcia, a poderosa Ísis, rainha dos céus.


ACRÍSIO, DÂNAE, ZEUS E PERSEU

Dânae era a filha de Acrísio, um rei de Argos, e de Eurídice, neta do mesmo Zeus; conhecendo a mitologia, não é de admirar que também fosse Dânae a amante do seu tio Preto, irmão gêmeo do pai e inimigo dele de antes do seu mútuo nascimento. Com este e outros muitos motivos, Acrísio e Preto se enfrentaram abertamente numa série de inúteis brigas, até que decidiram repartir-se o território herdado do seu pai Abante, de modo que Acrísio ficou com Argos e Preto foi governar em Tarento. Passado o episódio, Acrísio quis ter algum filho a quem ceder o seu minguado reino e, para satisfazer a sua curiosidade, requereu os serviços de um adivinho. Este assegurou-lhe que não teria descendência masculina, mas que sucederia um dia que um neto o mataria morte. Como a única maneira de que tal coisa sucedesse passava pelo fato certo de que fosse a sua única filha quem desse a luz tão temível neto, Acrísio encerrou Dânae num calabouço com portas de bronze, segundo uns, e numa torre construída inteiramente de bronze, segundo outros cronistas mais exagerados, que nem janelas tinha e estava rodeada por uma matilha de cães de caça, para não dar nenhuma possibilidade de cumprimento ao oráculo e salvaguardar assim a sua ameaçada vida futura. Zeus, que devia estar tranqüilo na sua celestial harmonia, não deixou de ver as operações do pai e rei Acrísio e, com certeza, começou a interessar-se por uma jovem bela e de difícil acesso, que já era um desafio à sua inteligência amatória. Inventou um sistema para a conseguir e, o que ainda era mais interessante, um modo seguro de a deixar grávida desse neto tão temido por Acrísio e tão funestamente descrito pelo oráculo. Como era de esperar, em breve encontrou o versátil Zeus a maneira de conseguir os seus dois propósitos.


A CHUVA DE OURO

Após uma atenta observação do encerro de Dânae, o sagaz Zeus deu com uma fenda na construção que encerrava a princesa Dânae. Era muito pequena, demasiado pequena para a deixar passar sob qualquer das suas múltiplas caracterizações animais, mas não suficientemente para não deixar filtrar como o faz a água. Essa foi a forma escolhida, a de uma fina chuva, dourada, dada a sua categoria divina, que entraria na restrita câmara onde se ocultava a bela da vista e do mais temido contato de todos... de todos menos do inquieto Zeus. Dentro da câmara, como era de esperar, Zeus recuperou a sua encantadora aparência e foi simples conseguir o que ansiava: os favores de Dânae. Ela, além disso, ficou grávida de um filho que seria o maior herói da Argólida. O pai, ao correr o tempo necessário para que isso fosse evidente, não pôde deixar de assombrar-se ao comprovar com os seus próprios olhos que a filha estava grávida apesar das cuidadosas precauções adotadas. Pensou que Preto tinha conseguido o método para aceder à sua filha e que esta tinha reincidido naquela relação odiada. Ouviu que era Zeus o pai do seu neto e não quis acreditar nem se atreveu a deixar de o fazer. Assim, não sabendo que fazer com aquela situação, e não querendo matá-los diretamente, decidiu arrojar a filha e o neto ao mar, embarcados numa caixote não concebido para navegar, precisamente; mas, após uma longa e angustiosa navegação à deriva, mãe e filho chegaram finalmente à costa da ilha Sérifos, onde foram resgatados por Dictis, o pescador local que era, também, irmão do rei da ilha, Polidectes, que se encarregou dos dois, e mais especialmente da educação do jovem Perseu.


PERSEU ENFRENTA O SEU PAI ADOTIVO

À medida que o tempo passava e o jovem crescia em tamanho e em saber, a situação mudava na pequena ilha. Polidectes, que se tinha mostrado tão hospitaleiro, queria agora forçar o seu casamento com Dânae, que não parecia disposta a descer ao seu nível, depois de ter sido amante do supremo Zeus. Para evitar mais complicações, Polidectes fingiu para Perseu, que ele pensava casar com Epidemia, a filha de Pélope e daquela célebre e primeira Epidemia, filha de Enomau, rei de Pisa, que tão difícil foi conquistar, pelas mortais travas que o seu pai impunha aos infelizes aspirantes ao seu amor. Pois bem, o bom Perseu acreditou na explicação dada por Polidectes, na qual este manifestava a necessidade de oferendar uns belos cavalos à amada, animais escassos na ilha. Perseu ofereceu-se para sair à procura de um exemplar digno de um rei, e também deu com a língua nos dentes, na sua generosidade e disse-lhe que era capaz de lhe trazer também a cabeça da Medusa. Com aquele deslize, apresentou-se uma nova oportunidade a Polidectes e tomou-lhe a palavra, dizendo que esta aterradora cabeça era uma oferenda apreciada. Perseu, que estava disposto a tudo para que deixasse a sua mãe em paz, partiu, sem mais remédio, à caça da espantosa Górgona, sem saber como conseguir a prometida cabeça. Felizmente, Perseu foi sempre um personagem mimado pelos deuses e, naquela ocasião, Atena conseguiu ouvir a tempo a oferta do jovem e, inimiga declarada de Medusa -visto que, se esta era monstruosa, era pela anterior intervenção de Atena-, pôs-se junto do rapaz e, em companhia, foram os dois caçar a aterradora mulher.


A CAÇA DE MEDUSA

Com Atena como companheira, Perseu chegou a Dicterião, onde a deusa os fez ver as imagens que lá se guardavam das Górgonas, de modo que não se pudesse depois ser confundida com as suas outras duas irmãs, dado que estas, Esteno e Euriale, eram imortais, ao contrário da irmã procurada, o que tornaria inútil qualquer tentativa de lutar contra elas, Também Atena aproveitou este tempo em Dicterião para lhe ensinar a maneira de aproximar-se dela sem cair na mortal cilada do seu olhar, pois Medusa matava de susto quem a visse, dado que o seu rosto era o resumo de todos os horrores imagináveis. Como arma, a industriosa Atena preparou-lhe um escudo tão brilhante como um espelho e Hermes fez-lhe chegar uma foice de diamante, para que com ela ceifasse a prometida cabeça e a levasse de regresso a Sérifos. De qualquer maneira, o arsenal não estava completo, dado que ainda lhe faltavam elementos tais como o elmo de Hades, que tornava invisível quem o usasse; umas sandálias aladas e uma bolsa especial onde esconder a cabeça de Medusa, se conseguisse o seu objetivo de matá-la. Estes artefatos estavam sob a custódia das ninfas de Estígia, mas ninguém sabia como os encontrar; bom, ninguém não, as três Grayas, as feias irmãs das Górgonas, sabiam-no e a elas se dirigiu Perseu, numa pesada viagem que o levou ao monte Atlas, onde elas residiam. Estas três Grayas tinham que compartilhar um único olho e outro único dente, dado que era tudo o que tinham entre as três para ver e comer. Perseu deslizou-se atrás delas e esperou que chegasse a vez de cedência de tão insólito condomínio, apoderou-se de ambos de um golpe rápido e pediu, para o seu resgate, a localização dessas ninfas de Estígia. As Grayas, sem outra solução que a delação, disseram ao raptor o que desejava ouvir e este foi sem mais demora à guarida das ninfas, sem que Perseu cumprisse a sua parte do pacto, dado que se foi embora deixando-as sem dente nem olho. Em Estígia viu as ninfas e, sem mais requisitos, recebeu delas as sandálias, o mochila e o elmo que lhe eram imprescindíveis para culminar a sua proeza, e conheceu o lugar onde podia achar a sua desejada presa.


ANTE MEDUSA

Com o seu equipamento de combate completo, Perseu foi voando com as suas sandálias aladas até a temível terra dos Hiperbóreos, povoada pelas efígies em pedra dos que antes tinham sido seres vivos e agora estavam imobilizados pelo feitiço da malvada Medusa. Em Hiperbórea encontrava-se o esconderijo das Górgonas. Lá estavam as três irmãs, adormecidas e ao seu alcance. Protegido da vista de Medusa pelo brunido escudo e a sua mão guiada por Atena, Perseu cortou de um único golpe a cabeça da Medusa e apressou-se em guardá-la, sem se atrever a vê-la, na bolsa mágica. Ao mesmo tempo que Medusa expirava, surgia do seu pescoço cortado o mágico cavalo Pegaso e o impetuoso Criasor, uns filhos que Medusa tinha tido com Possêidon e que não nasceriam até a morte da mãe.

Perseu, amparado pela invisibilidade do elmo, fugiu do lugar, enquanto Esteno e Euriale despertavam perante os gritos de cavalo e guerreiro, os filhos da sua irmã morta que agora se davam a conhecer de um modo tão surpreendente. Mas nada puderam fazer, dado que ninguém se divisava por aqueles caminhos e já Medusa estava definitivamente perdida. Perseu continuou na sua fuga, carregando com a cabeça de Medusa, até as terras de Etiópia. Mas, pelo caminho, teve tempo para aproximar-se da residência de Atlante, o titã, a quem, para se vingar de uma anterior afronta, deixou ver a horrível cabeça, o justo para que este ficasse convertido numa montanha digna do seu tamanho. Depois, enquanto voava sobre as areias do deserto, deixou cair o dente e o olho das Grayas para rematar a sua faina com um sarcasmo final. Mais adiante, na costa de Filistéia, Perseu encontraria uma surpresa adicional.


A INSÓLITA APARIÇÃO DE ANDRÔMEDA

No seu mágico vôo africano, Perseu conseguiu ver uma mulher, bela, nua e acorrentada. Apaixonou-se imediatamente pela sua esplêndida e clara beleza e propôs-se, naturalmente, libertá-la daquelas amarras. De maneira que desceu ao solo e aproximou-se dela para saber a causa daquela condenação. Antes de chegar junto dela, Perseu viu um casal de maior idade que vigiava preocupado o desfiladeiro onde a bela estava acorrentada, e pediu-lhes uma explicação daquela estranha situação. Deles Perseu ouviu admirado o que sucedia, ao mesmo tempo que soube que eles eram os atribulados pais da jovem, o rei Cefeu de Jope e a sua esposa, a bela Cassiopéia. Contaram-lhe que a mãe Cassiopéia se tinha atrevido um dia a envaidecer-se da sua beleza e da da sua filha, argumentando que ambas eram muito mais bonitas do que a própria Hera, ou do que as Nereidas, que é o caso que agora nos ocupa. Possêidon, deus de mau gênio e tremendas reações, irritou-se ao ouvir que as suas criaturas marinhas estavam zangadas por aquela asseveração (que era certa) de que as Nereidas ficavam atrás perante a beleza de Cassiopéia, e que esta não se coibia em proclamá-lo abertamente aos quatro ventos. Como lição, Possêidon enviou vendavais e ondas tremendas ao reino de Cefeu, monstros e castigos. Cefeu foi aos adivinhadores dos desígnios divinos e por eles pôde saber que a única saída à situação passava pelo sacrifício da sua filha, que devia servir de alimento ao monstro enviado por Possêidon. Assim o fizeram e agora estavam aterrorizados, à espera de que se cumprisse a ameaça, impotentes perante o funesto destino que aguardava a sua filha. Perseu pediu a Cefeu que lhe desse a sua filha como esposa se a conseguisse salvar daquela morte terrível, ao mesmo tempo que se comprometia a acabar também com o monstro e com a ameaça de Possêidon. O pai, sem nenhuma outra opção, aprovou a petição do impetuoso Perseu e este, de novo, lançou-se a matar o monstro. Este já se aproximava da sua presa, mas Perseu desceu como um raio sobre ele e, com aquela foice que Hermes lhe tinha dado, cortou de um golpe certeiro a sua cabeça e desatou a que seria a sua futura esposa, a amada Andrômeda.


OS SOGROS DESAGRADECIDOS

Mas Cefeu e Cassiopéia não queriam Perseu para a sua filha. Tiveram que ceder perante a sua exigência de casamento e este celebrou-se imediatamente. Pouco durou a celebração, dado que Agenor chegou a reclamar Andrômeda para si, enquanto que Cefeu e Cassiopéia se punham do lado dele, argumentando que Perseu os tinha forçado a um casamento não desejado. Perseu, que ainda tinha perto de si o troféu da Gorgona, tirou da sua bolsa a cabeça e os rivais ficaram convertidos em imóveis pedras. Irritados por aquela traição, os esposos regressaram ao ponto de partida de Perseu, à corte de Polidectes, para encontrarem com outra traição. Dânae e Dictis estavam escondidos para distrair a perseguição ao pequeno rei, e este encontrava-se no palácio, festejando por antecipado o seu próximo enlace.

Perseu apresentou-se no palácio e, mais uma vez, a cabeça da Medusa voltou a sair da sua bolsa, para converter em pedras inertes Polidectes e os seus amigos. Após a sua vingança, Perseu pôs a bolsa e o seu conteúdo nas mãos de Atena, fez com que o fiel Dictis ocupasse o trono vazio e foi-se embora da ilha, a caminho da sua desconhecida pátria Argólida. O rei Acrísio, ao saber que o seu neto, o que tinha que o matar segundo o oráculo, se aproximava das suas costas, fugiu para Tessália, com a esperança de evitar o destino. De nada lhe valeu; Perseu também foi a Larissa, para participar nos jogos fúnebres que Teutâmides organizava em honra do seu pai. No lançamento do disco, Perseu, movido pela vontade dos deuses, fez com que o seu tiro alcançasse Acrísio, sem sequer saber que ele estava entre o público, e esse disco foi a causa da morte do avô. Perseu, ao saber o sucedido, ocupou-se das honras fúnebres de Acrísio e, para não ocupar o seu posto, trocou o reino de Argos pelo de Tirinto, com a conformidade do filho de Preto e, mais tarde, converteu-se em soberano de toda a Argólida, reinando nela junto com a sua esposa Andrômeda.


AGAMENON E MENELAU

Os irmãos Agamenon e Menelau, expulsos de Micenas por Egisto, que tinha assassinado o seu pai, o rei Atreu, foram para Esparta, onde na altura reinava Tindáreo, pai dos Dióscuros Castor e Pólux, de Helena e Clitemnestra. Menelau casou com Helena e herdou a coroa de Esparta. Agamenon, lutador incansável, também casou com outra filha do seu protetor Tindáreo, mas fê-lo pela força, após derrotar e matar o seu marido, o rei Tátalo de Pisa. Depois pediu e recebeu do seu sogro licença para manter aquele forçado casamento. Dele tiveram um filho e três filhas: Orestes, Electra, Ifigênia e Crisótemis. Até agora nada parecia supor a importância dos filhos do casal, mas o rapto de Helena por Paris deu início à longa e importante Guerra de Tróia e no decurso da mesma ver-se-iam enfrentados diretamente os deuses, agrupados nas duas bandas opostas que também opunham os seres humanos. Menelau recuperaria posteriormente a sua esposa Helena, enquanto Agamenon, após o seu regresso de Tróia, morreria pelas mãos do assassino do seu pai, Egisto, e a sua esposa Clitemnestra. Os seus filhos Orestes e Electra teriam que vingar Agamenon, embora fosse ao preço de matar a sua própria mãe e de pôr em perigo a sua saúde mental. Ifigênia esteve a ponto de ser sacrificada pela sua mãe, Clitemnestra, para obter o favor divino, e só a intervenção de Artemisa evitou a sua morte. Este mito das três gerações ligadas constantemente entre si pela trama do destino é -sem dúvida- uma das mais admiráveis tragédias gregas, e do seu conteúdo vamos dar conta duma maneira resumida, porque não podemos, nem de longe, pretender melhorar o que Esquilo e Eurípedes, entre muitos outros, fizeram de maneira magistral há já milhares de anos.


TRAIÇÕES E VINGANÇAS

Egisto temia Agamenon desde que este se converteu em moço, mas a ocasião de acabar com os seus temores apresentou-se ao conhecer que Clitemnestra, sua esposa, estava procurando um acompanhante enquanto ele lutava em Tróia. Não pensou nem um segundo e uniu-se a ela, com a esperança de poder tê-la como cúmplice diante do esposo odiado. Ao princípio a conquista não foi fácil, dado que Agamenon tinha mandado vigiar Clitemnestra, pois desconfiava dela o bastante, após ter sabido que Náuplio (que tinha razões suficientes para querer vingar-se de Agamenon e dos seus) incitava as esposas ao adultério, e ele próprio também não era um bom exemplo de fidelidade dado que tinha estabelecido relações com Cassandra no mesmo fronte de batalha, tendo tido com ela dois filhos, Telédamo e Pélope. Conseguiu Egisto desfazer-se da vigilância im posta pelo marido e já não houve obstáculos.

Mas Hermes avisou Egisto de que os seus desejos de vingança eram uma temeridade, porque o deus sabia que Orestes, quando fosse um homem, o mataria irremediavelmente. Egisto preferiu ignorar a advertência de Hermes e estabeleceu o plano contra Agamenon e Cassandra, para agradar mais ainda a Clitemnestra e ter melhor aliada. Foi ela quem preparou a série de mecanismos que teria de avisar do regresso de Agamenon e, sabendo que estava pronta para o seu regresso, preparou-se a cilada que teria que acabar com ele. De fato, Agamenon chegou ao palácio e a esposa recebeu-o com gestos de alegria; preparou para ele o banho e, pretendendo enxugá-lo amorosamente, embrulhou-o numa tupida rede da qual já Agamenon não poderia livrar-se. Egisto apareceu então para lhe cravar a espada e Clitemnestra cortou-lhe a cabeça com um machado, com o mesmo que usaria depois para cortar a cabeça de Cassandra e Egisto e matava os dois filhos de ambos. Já se tinha consumado a dupla e terrível vingança.


ORESTES E ELECTRA

Clitemnestra instituiu o dia da morte de Agamenon como uma festa para recordar. Egisto, por sua parte, tentou assassinar Orestes no seu berço, para livrar-se da vingança anunciada por Hermes, mas a ama-seca do menino sacrificou o seu próprio filho para enganar Egisto, deixando que este pensasse que o cadáver da criatura era o de Orestes. Oculto durante anos, Orestes cresceu protegido pelo rei Estrofio de Crisa, e foi educado em igualdade de condições que o seu filho Pílades, de quem se tornou o seu melhor e inseparável amigo. As suas irmãs Electra e Crisóstemis, entretanto, viviam submetidas à humilhante tirania de Egisto, que não contava com elas e evitava que se convertessem em possíveis rivais, pelo qual lhes proibiu que celebrassem casamento com alguma pessoa da nobreza que lhes pudesse dar o poder que ele e Clitemnestra lhes negavam. Mas Electra, ao contrário de Crisóstemis, não se resignava e mantinha uma secreta comunicação com Orestes, com quem tratava de recordar sempre a vingança devida aos assassinos do seu pai. Quando Orestes cresceu, dirigiu-se a Delfos para saber sobre o parecer de Apolo e este fez-lhe saber que devia matar a sua mãe e o amante e, também, que devia estar preparado para rejeitar os ataques das Erínias, dado que elas deveriam, por sua vez, acusá-lo como castigo do assassinato de uma mãe, que ele ia realizar. Preparado para a sua missão sagrada e acompanhado por Pílades, Orestes voltou clandestinamente para Micenas.

Junto da sepultura do pai reuniu-se, de novo pelas mãos dos deuses, com a sua irmã Electra; ambos se reconheceram imediatamente e traçaram o plano para entrar no palácio e executar o casal. Orestes fez-se passar pelo mensageiro que trazia a urna com as cinzas de um hipoteticamente falecido Orestes e isso encheu Clitemnestra de alegria, que mandou chamar Egisto para regozijar-se com a boa nova. Junto de Orestes estava Pílades e, um momento depois, Egisto jazia morto pela espada de Orestes, enquanto Clitemnestra se despia e implorava piedade, mas já a espada de Orestes voltava a levantar-se para terminar decapitando a sua própria mãe.


A MODO DE EPÍLOGO

As Erínias atacaram incessantemente Orestes após ter matado Clitemnestra, a sua mãe, e estiveram a ponto de o enlouquecer; enquanto Tindáreo formou o tribunal que tinha que julgar Orestes e Electra por aquela morte da sua mãe. Menelau e Helena chegaram à cidade para assistir ao julgamento. O veredito do tribunal foi categórico: Orestes e Electra deviam matar-se a eles próprios. Piades pediu unir-se a eles nesse suicídio sentenciado, não sem antes ter querido terminar inutilmente com a vida de Helena, dado que a ela se devia culpar em boa medida o desastre da Guerra de Tróia: também tentaram atear fogo ao palácio, mas tudo terminou com a aparição do mesmo Apolo, para fazer saber a todos que Orestes só tinha cumprido a sua ordem. Agora devia tomar o caminho do desterro durante um ano e purificar-se, para depois ir Atenas para ser julgado pelo Areópago, com Apolo como seu defensor. Absolvido graças ao voto decisivo de Atena, Orestes pôde regressar para Argólida, enquanto a sua irmã Electra casou com Pílades, o mais fiel dos seus amigos.