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luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

MITOS E LENDAS DA TRÁCIA
MITOS E LENDAS DA TRÁCIA

 

mkj


A mais ancestral das lendas trácias tem relação com o rito e com o mito ao mesmo tempo, e decidir onde começa um e termina o outro é uma tarefa árdua, se não impossível, pois o mítico e o ritual encontram-se sempre unidos na composição de uma mesma estrutura: conformam, por dizer de alguma maneira, as duas caras da mesma moeda. Todas as religiões e crenças aparecem, quanto à sua origem, revestidas por certa influência órfica na opinião de acreditados pensadores e ensaistas -esse é o caso de Salomão Reinach que intitula precisamente assim a sua obra mais afamada: "Orfeu, História Geral das Religiões"-; por isso, adquire grande importância a mítica figura de Orfeu, o legendário sábio trácio que tinha por atributos a pele de raposa, com a qual se cobria sempre, e a lira, o instrumento musical que sempre o acompanhava. Não obstante, diz-se que Orfeu nunca existiu e que o seu principal defensor foi o sempre insigne Virgílio na sua obra "As Geórgicas".

Toda uma filosofia órfica, mistérios órficos e ritos órficos, gerou a figura de Orfeu e, especialmente, a sua "descida aos infernos".

Ao redor de Orfeu se formou uma misteriosa seita cujo ritual se caracterizava pela sua complexidade. A adscrição a ela era sempre um segredo bem guardado entre os seus membros, o que deu como fruto um sistema teológico conhecido pelo nome de "orfismo". A influência desta tendência estendeu-se por todo o mundo clássico e durou tempo depois. A figura de Orfeu adquire importância através de todos os tempos e o seu estudo é imprescindível e obrigatório para construir um mapa mitológico em torno ao legendário herói, se se quer tirar uma série de asseverações até agora inéditas ou deficientemente interpretadas, quando não mal compreendidas. A verdade é que o fenômeno do orfismo foi tratado por estudiosos de todos os tempos e as suas conclusões não estiveram isentas de certa polêmica.


FILHO DE UMA MUSA

Possivelmente o pai de Orfeu foi um deus que atravessava a região de Trácia. Era-lhe rendido culto por isso, pois a água já era considerada pelos povos antigos como um dos mais apreciados dons que a natureza pode oferecer-nos. As diversas versões sobre o mito de Orfeu fazem deste filho da musa Calíope que guiava o resto das suas companheiras e, no dizer dos narradores clássicos, era a protetora da poesia épica e a inspiradora de todo o lírico e belo que encerram as palavras.

Calíope também era considerada a musa que ajudava na cura das doenças e vigiava para que o remédio tivesse o efeito benéfico esperado. Diz-se que Calíope foi também mãe das míticas Sereias e, sobretudo, é relacionada com o grande herói Aquiles, que a inicia na difícil arte da entonação e do canto. Esta musa, mãe de Orfeu, também teve uma intervenção decisiva por motivo da disputa entre Afrodita /Vênus e Perséfone /Proserpina, quando ambas rivalizaram por reter o belo Adônis, o qual gerou a bela lenda que leva o nome deste belo efebo e que se encontra muito estendida pelas margens mediterrâneas. A musa Calíope reuniu ambas deusas e conseguiu que parassem na sua animadversão mútua. A partir de então, Adônis repartiria o seu tempo entre Perséfone e Afrodita e permanecerá tanto ao lado de uma como de outra .


A ÁRVORE DA MIRRA

Mas o mito de Adônis, à parte de guardar certa relação com a musa Calíope, mãe de Orfeu, adquire ares de certo modo atraente, motivo pelo qual não estaria demais descrevê-lo. Chama especialmente a atenção a beleza de Adônis, de quem se diz que tinha nascido de Mirra, filha do rei de Chipre que, mediante engano, foi obrigada a deitar-se com o seu próprio pai e assim que percebeu pediu aos deuses que lhe perdoassem, embora ficasse imediatamente convertida na árvore da mirra. O incesto foi provocado pela deusa Afrodita, que sentia ódio e desprezo por Mirra -pois esta tinha-se gabado da sua beleza até o ponto de julgar-se mais bela do que a própria Afrodita- e, assim, tramou tão sutil e retorcida cilada. A união da filha e o pai produzia-se na escuridão e até a ama contribuía para levar à frente os planos da deusa Afrodita pois, segundo contam as crônicas, se encarregava de embebedar o pai de Mirra. Não obstante, este chegou a dar-se conta da barbaridade que estava cometendo e propôs-se matar a sua filha Mirra -isto é, que resolveu compensar uma barbaridade com outra ainda maior, curioso!-, mas os deuses decidiram convertê-la em árvore e livrá-la assim da ira do seu progenitor. Passou um tempo prudencial e aquela árvore foi atacada por um terrível javali e, então, entre da espessura dos seus ramos caiu um belo menino que foi apanhado por Afrodita e confiado a Perséfone. Foi-lhe dado o nome de Adônis e cresceu, tornando-se um belo rapaz; a própria Perséfone apaixonou-se por ele e negou-se a devolvê-lo quando lhe foi reclamado por Afrodita.


ANÊMONAS E ROSAS VERMELHAS

Mas Zeus e a musa Calíope determinaram que o rapaz passasse quatro meses com cada deusa, com o qual finalizaram os desacordos entre ambas. Contam as lendas que o jovem Adônis era amante da caça e que, em certa ocasião, quando perseguia um javali, este lançou-se contra aquele, virou-o e pisou-o. Afrodita acudiu imediatamente para ajudar o belo efebo, mas as suas feridas eram muito profundas e terminou sangrando-se, pelo que lhe sobreveio a morte. A própria Afrodita se feriu ao tentar ajudar o seu protegido Adônis. No lugar do acontecimento brotaram, com o tempo, anêmonas -que procediam do sangue derramado naquele lugar por Adônis-, e rosas brancas que foram mudando a sua cor -devido ao sangue derramado por Afrodita quando se feriu- até tingir-se completamente de vermelho. Desde essa altura, as rosas vermelhas nunca mais perderam a sua cor e sempre nascem assim em recordação de Afrodita.

Contam os cronistas mais afamados que Adônis também decidiu passar com a deusa Afrodita os meses que Zeus e Calíope lhe tinham reservado para ele próprio, pelo qual esta se sentiu lisonjeada e decidiu proteger e ajudar, no futuro, tão belo efebo. Algumas versões do mito de Adônis explicam que o javali que provocou as feridas que causaram a morte do jovem efebo era, realmente, o poderoso deus Ares que se transformou de tal forma porque conhecia a paixão que Adônis sentia pela caça e, como não conseguia atrair para ele a bela Afrodita, esperou-o no profundo do bosque e acabou com ele. Em compensação, outros cronistas daquele tempo explicariam que o famoso javali era, realmente, a personificação do deus Apolo, que se tinha transformado deste modo para vingar a morte do seu filho Erimanto que, segundo conta a lenda, Afrodita tinha castigado -diz-se que a deusa cegou o filho de Apolo- porque foi surpreendida por aquele quando se estava banhando.


O CARVALHAL DA TRÁCIA

As qualidades deste jovem efebo foram evocadas por todos os cronistas do mito. Especialmente Orfeu é associado com uma das mais belas artes de todos os tempos, isto é, com a música. Diz-se que o deus Apolo lhe ofereceu uma lira com sete cordas e que o próprio Orfeu acrescentou mais duas a este instrumento, com o qual conseguiu produzir alguns sons e umas melodias que amansavam as feras; o canto que acompanhava a suave música que emanava daquele instrumento tinha a particularidade de fazer com que árvores e montes acolhessem, e protegessem, o jovem Orfeu de quaisquer perigos que pudessem sobrevir-lhe. A lenda colheu até aos fatos tão líricos como aqueles que narram a história do carvalhal da Trácia no qual as árvores que o compõem dançam, até o dia de hoje, por efeito da melodia que saiu da lira do jovem e belo Orfeu num dia já muito longínquo.

Conta-se também que até os humanos se sentiam melhor e o seu caráter se suavizava quando ouviam os serenos sons que saíam da lira do belo efebo Orfeu. Música e poesia se fundiram, através dos tempos, na cítara e na lira que Orfeu aperfeiçoou, dotando-as de nove cordas em memória das "Nove Musas" pois, como já sabemos, ele próprio foi engendrado pela principal de todas: pela musa Calíope.


PELO CAMINHO DA CÓLQUIDA

Uma série de acontecimentos míticos se resolverão felizmente graças à intervenção de Orfeu com os seus instrumentos musicais. Por exemplo, segundo narram as crônicas clássicas, quando a expedição dos Argonautas tinha dificuldades devido ao mar bravo, o jovem Orfeu -que se encontrava presente na citada expedição- arrancava tais sons harmoniosos da sua cítara e entoava tão desgarradoras canções que as águas se acalmavam e o mar inteiro se transformava numa, por assim dizer, balsa de azeite. Deste modo, os expedicionários puderam seguir o seu caminho para a região da Cólquida à procura daquela apreciada pele do mítico carneiro que, segundo as narrações clássicas, nasceu da união entre Teófane -mulher de extrema beleza que acossavam os seus admiradores e que Possêidon seqüestrou e mudou para a ilha de Crisina para, uma vez lá, convertê-la em ovelha e ele próprio transformar-se em carneiro- e Possêidon, dando lugar à lenda do Velocino de ouro. Um gigantesco e feroz dragão guardava o citado troféu e não deixava aproximar-se ninguém ao Velocino de ouro mas, a lira e a cítara de Orfeu, suavemente tocadas pelo jovem, transformaram em mansidão a ferocidade do dragão e, deste modo, o chefe da expedição -o ousado Jasão- conseguiria matar o monstro.

Muitas ocasiões teve Orfeu para acalmar com a sua cítara e a sua lira a fúria desatada de numerosos animais selvagens. E, freqüentemente, os mortais foram salvos do ataque dessas agressivas feras que, ao ouvirem a música emanada dos instrumentos tocados com habilidade pelo jovem Orfeu, abandonavam imediatamente as suas covas e guaridas e se tornavam, ao mesmo tempo, dóceis e mansas.


HISTÓRIA DE AMOR

Contudo, o episódio mais significativo, e que tem por protagonista Orfeu e sua lira, talvez seja o sucedido na região subterrânea do Tártaro. Contam as mais ancestrais lendas que até o infernal cão que guardava aquelas regiões abissais, o Cão cerbero, cedeu perante a música do jovem Orfeu e permitiu-lhe entrar nos escuros domínios de Hades /Plutão. Mas porque é que o jovem efebo quereria ultrapassar o umbral da porta do Tártaro? Para responder com precisão à esta pergunta é necessário descrever uma doce história de amor cujos protagonistas serão Orfeu e a bela ninfa Eurídice. Contam as crônicas que a jovem donzela, sentindo-se acossada por um dos seus pretendentes, concretamente por Aristeu -filho de Cirene e Apolo que, segundo a tradição, foi cuidado pelas Musas, que lhe ensinaram a arte da cura e da adivinhação-, decidiu fugir e teve tão pouca sorte que, na sua louca corrida, tropeçou com uma enorme serpente que cravou imediatamente as suas venenosas fauces na rosada pele de Eurídice, causando-lhe a morte. Grande foi o desconsolo de Orfeu, que decidiu descer ao Tártaro -armado com a sua lira- para resgatar a sua amada. Que vã pretensão! poderíamos pensar num primeiro momento; pois ninguém, até agora, tinha regressado dos domínios de Hades /Plutão. No entanto, o nosso herói, levando como única bagagem o seu canto e a sua música, chegou até a mesma porta do Tártaro e ultrapassou o seu umbral -com a licença expressa do feroz Cão cerbero, naturalmente-, e entrou nos escuros abismos de tão sinistro lugar. Depois de deleitar com a sua cítara e as suas canções o próprio Hades /Plutão, rogou-lhe que permitisse sair Eurídice do Tártaro, ao qual acedeu a terrível deidade, com a condição de que o jovem músico não olhasse para trás, para comprovar que a sua amada o seguia, enquanto não se encontrassem ambos fora daqueles lugares infernais. Aceitou Orfeu tais condições e dispôs-se a caminhar para a saída do Tártaro; quando já se encontrava praticamente fora daquela região escura, sentiu a necessidade de comprovar se a sua querida Eurídice o seguia e, sem lembrar-se da condição imposta por Hades /Plutão, virou a cabeça para a olhar. Mas só conseguiu ver, entre assustado e atônito, como a sua amada se convertia em brumas e desaparecia para sempre.


RETIRADA DE ORFEU

À raiz dos fatos narrados, o jovem efebo ficou sumido na mais profunda das tristezas. A perda da sua amada Eurídice transtornou o rapaz e, para sobrepor-se a tão aguda dor, Orfeu dedicou-se a confeccionar uma espécie de guia, por assim dizer, que descrevesse aqueles lugares secretos e escuros que constituíam os domínios de Plutão para, assim, alertar o resto dos mortais. Diz-se que Orfeu, depois de abandonar o Tártaro, e uma vez resignado à irreparável perda de Eurídice, se dedicou a explicar a maneira de achar o caminho que conduzia aos domínios de Plutão e, assim, mostrou às almas dos mortais os escondidos becos que desembocavam na própria margem do Aqueronte, o escuro rio que delimitava a região do Tártaro e cujas turvas águas só podiam ser atravessadas pela barca de Caronte.

O nosso herói ainda fez outra tentativa para descer aos infernos mas, desta vez, não conseguiu os seus propósitos. E não porque tivesse decaído no seu empenho, dado que durante sete dias e sete noites permaneceu na margem do pestilente rio Aqueronte à espera de que o barqueiro da morte o transportasse até a porta das regiões subterrâneas que já tinha visitado antes. Tudo resultou em vão, e Orfeu se resignou à perda da sua amada e, ao mesmo tempo, entrou numa espécie de apatia que o conduziria à morte. Depois de que o nosso herói tivesse abandonado aqueles lugares de perdição, se encaminhou para as montanhas situadas no mais afastado da região de Trácia. Procurava a solidão para aliviar a sua pena e acalmar a sua dor.


CRIME HORRENDO

A única companhia que Orfeu aceitava de bom grado era a dos animais que habitavam naquela zona tão inóspita de Trácia, os quais se aproximavam mansamente dele quando ouviam a música que saía da sua cítara. Mas algumas mulheres em breve deram com o refúgio do jovem efebo que, em princípio, pretendiam consolá-lo embora, realmente, o que tentavam era fazer esquecer Orfeu de qualquer recordação antiga e penosa, e conquistá-lo com os seus encantos. Mas o jovem tinha decidido nunca ter mais relação alguma com outras mulheres e, de uma forma indireta, rejeitava qualquer oferecimento que lhe fosse feito em tal sentido. Conta a tradição que as mulheres que moravam naquela zona da Trácia, sentindo-se rejeitadas pelo jovem efebo, despeitadas e doloridas, decidiram esperar as datas em honra de Baco e vingar-se. E assim foi como ocorreu, uma vez convertidas em bacantes, as mulheres trácias cometeram o crime mais horrendo da história pois não só mataram Orfeu, mas também todos os seus adeptos.


"MISTÉRIOS DE REA"

Algumas versões do mito que estamos considerando explicavam, em compensação, que os fatos se tinham desenvolvido de outro modo, embora as conseqüências e o desfecho final sejam os mesmos. O caso é que, segundo certa tradição, Orfeu tinha instituído uns mistérios, ao voltar do Tártaro, denominados "mistérios de Rea" e tinha proibido o acesso do seu conhecimento às mulheres. Então, numa noite em que os homens tinham se reunido para decidir sobre o conteúdo ritual dos citados mistérios, as mulheres de Trácia seguiram-nos até o lugar do sucedido e como viram que aqueles abandonavam as suas armas antes de entrarem no recinto onde celebravam a sua liturgia, roubaram os instrumentos de tortura e mataram Orfeu e os seus acompanhantes sem contemplação alguma. Cortaram a cabeça do jovem e arrojaram-na às águas do caudaloso rio Hebro -que nascia nas profundidades de duas míticas montanhas envolvidas numa aura de lenda, pois se dizia que personificavam o casal formado pela bela Ródope e o jovem Hemo que, por suplantar aos reis do Olimpo e exigir um culto próprio para si, foram castigados por Zeus a transformar-se em duas montanhas contíguas que guardariam nas suas profundidades límpidas correntes de água que, ao sair à superfície, formaria o caudaloso rio Hebro- que a arrastou até Lesbos e, assim, converteu-se este lugar em berço da poesia lírica. Tão aberrante comportamento das mulheres trácias aparecia relacionado com a atitude desprezível que o músico Orfeu tinha para com elas pois, como todo o mundo sabia, atraíam-no mais os rapazes do que as moças. E isto provocava a ira das mulheres trácias. Outra versão do mito da morte do nosso herói nos esclarece que foi o próprio deus Baco quem enviou as bacantes contra Orfeu porque temia que os mistérios que o jovem tinha instituído pudessem deslocar as festas erigidas em honra da deidade em questão.


REPOUSO DE ORFEU

No entanto, são muitos os lugares míticos onde, segundo a tradição popular, se encontram tumbas com os restos de Orfeu. A tradição popular nos diz que em Tessália existia uma urna de mármore que continha as cinzas de Orfeu, as quais não deviam ser expostas à luz -segundo prescrição do oráculo- pois, caso contrário, sobreviriam incontáeis desgraças à cidade. A verdade é que, embora não parecesse que tal previsão do oráculo se fosse cumprir, uma série de acontecimentos fez com que as colunas que mantinham o sarcófago com as cinzas do jovem efebo caíssem a terra e se espalhassem pelo chão, com o qual foram penetradas pelo sol. O dia tornou-se imediatamente escuro e uma grande tempestade se desencadeou em toda a região; o rio que passava pela cidade transbordou e arrasou-a quase completamente. As lendas sobre Orfeu surgiram por todos os lados e, por exemplo, dizia-se que a sua lira voou para os espaços siderais e converteu-se numa das constelações que povoam o cosmos. Também se afirmava que entre os adornos arquitectônicos do mausoléu onde jazia Orfeu se aninharam os rouxinóis que cantavam e trinavam de uma maneira pouco comum. A mais estendida das lendas também afirmava que os Campos Elíseos acolheram a alma de Orfeu após a sua morte e que a sua figura estilizada aparece, em ocasiões, revestida com uma longa túnica branca enquanto se entoa um belo canto que atrai a todos os bem-aventurados que se congregam naquele lindo lugar.


"OS SONS DO SILÊNCIO"

Muitos outros acontecimentos que naquele tempo ancestral se produziram tiveram certa relação com a irreparável e trágica perda de Orfeu. E o nosso herói foi sempre relacionado, de maneira especial, com a música. A tradição popular apregoava com persistência as excelências de Orfeu e o seu canto até depois da sua morte. Diz-se que as próprias musas, suas servidoras e companheiras, recolheram os restos do jovem efebo -que as mulheres trácias tinham destroçado- e os sepultaram num belo e, desde essa altura, sagrado lugar, situado ao pé do idílico Olimpo.

Depois de realizar tão triste tarefa, conta a lenda que as musas se retiraram para o mais escondido e inacessível dos lugares míticos e, em memória do herói que tanto tinham amado, se apagaram. O mais visitado dos santuários daquele tempo recebeu a cabeça e a lira de Orfeu, que tinham sido arrastadas até a ilha de Lesbos, primeiro pelas águas rápidas do rio Hebro e, depois, pelas ondas vibrantes do mar Mediterrâneo. Uma música de suaves cadências e um canto melodioso emergem a partir de agora, segundo as lendas, do interior do silencioso templo e ninguém, até agora, pôde calá-los.


ORFEU NA ARTE

Posto que o orfismo se constituiu em sistema não só mitológico, mas também teológico, assim que se rodeou de ritos e liturgia de acordo com formas religiosas e esotéricas, pode afirmar-se que a sua influência conseguiu todos os estamentos sociais, culturais e artísticos; já estes são considerados tanto sob uma perspectiva espacial como sob um ponto de vista atemporal.

As representações de Orfeu, assim como as interpretações do mito da sua morte, estiveram presentes entre os artistas clássicos, medievais, modernos e contemporâneos. Em Delfos aparecem afrescos de Orfeu visitando os domínios de Hades /Plutão, à procura da sua amada Eurídice. E as pinturas que representam o jovem músico em atitude de aplacar a fúria das ondas do mar na sua viagem com os Argonautas são também descritas pelos estudiosos da arte, através de todos os tempos. A mais conhecida é aquela que explica Filostratos, e onde aparece Orfeu no convés da embarcação dos expedicionários do Velocino de ouro entoando um canto que produz a calma do forte temporal. Existem, finalmente, numerosas representações pictóricas cujo motivo principal é Orfeu e que aparecem colhidas pelas diferentes tradições cristãs. Diz-se que o simbolismo emanado de Orfeu rodeado de animais em atitude mansa foi retomado pelos cristãos para introduzir a figura do "Bom Pastor". Também pintores como Delacroix se inspiraram no mito de Orfeu para representar, em alguns dos seus quadros, aspectos relacionados com o célebre músico; embora no caso que nos ocupa, o artista quis destacar a importância que para a civilização, e para a paz e o entendimento dos povos, teve o famoso mito. Há obras com o sentido aludido em determina dois estamentos de algumas cidades européias. Por exemplo, no edifício da Câmara dos Deputados de Paris existe uma obra de Delacroix que rememora o mito de Orfeu sob uma perspectiva relacionada com os estados de civilização e com as pretensões humanas da paz. Também na biblioteca do palácio de Luxemburgo, numa das suas cúpulas, há uma pintura que mostra o jovem efebo em atitude de doutrinar um famoso historiador da época clássica.

Artistas de todos os tempos exibiram nas suas obras cenas da vida de Orfeu. Por exemplo, cabe mencionar, a esse respeito, o quadro de Française no qual o jovem efebo deleita com o seu canto a sua amada Eurídice. Ou a pintura de Jalabert, que mostra as musas ouvindo a música interpretada por Orfeu. Também não se devem esquecer as alusões à dor e à morte de Orfeu que se encontram na obra gráfica de artistas como Levy ou Moreau. A este último pertence o famoso quadro onde aparece uma jovem colhendo a cabeça do malogrado músico.

Quanto à escultura, os artistas clássicos representaram com freqüência o jovem músico dentro de um conjunto formado por Zeus e Baco, o qual é conhecido como o grupo do templo de Olímpia. Também existem esculturas que representam Orfeu com o semblante carregado de dor, e que foram realizadas por célebres e premiados artistas do século XIX.

São freqüentes, por outra parte, as representações de Orfeu amansando com a sua música e o seu canto os animais e que aparecem em peças de cerâmica, sobretudo a partir do século V aC.


HERÓIS DA TRÁCIA

Além de Orfeu, também houve outros personagens na Trácia que foram relacionados com a música. Talvez o mais conhecido deles tenha sido Támiras, considerado o primeiro poeta, cantor e músico de todos os tempos. Também é relacionado com o estilo mais inovador da música e afirma-se que foi ele quem introduziu o denominado "modo dórico". Legendárias histórias mitológicas explicam que Támiras se atreveu a apregoar a superioridade do seu canto até chegar a desafiar as próprias musas. Estas castigaram a sua arrogância de forma excessivamente severa pois, ao parecer, minguaram substancialmente todas as qualidades que o jovem cantor possuía e privaram-no da vista. De nada lhe servia já o seu outrora maravilhoso instrumento musical, pelo qual o rapaz decidiu arrojar a lira ao rio mais caudaloso da região do Peloponeso.

Outro dos mais célebres personagens da Trácia foi Filémon, a quem se atribuíam dotes de músico e adivinho, e se reconheciam qualidades de poeta. A tradição clássica fá-lo filho de Apolo e pai de Tâmiris. Ao parecer sentiu-se atraído pela ninfa Argíope e depois, assim que conseguiu dela uma total entrega, repudiou-a; a bela rapariga fugiu para a Trácia e, uma vez lá, deu à luz o seu filho Tâmiris.

Também contam as crônicas que Filémon foi o introdutor dos míticos mistérios de Deméter e, além disso, é considerado o fundador dos coros formados por vozes femininas. Diz-se também que foi um dos integrantes da expedição dos Argonautas, e que morreu como um herói defendendo os habitantes de Delfos contra os ataques dos flégios.


EUMOLPO

A tradição popular nos fala da lenda de uma jovem que tinha sido amada pelo deus das águas e que, por temor a ser castigada pelos seus progenitores, abandonou o menino que tinha engendrado no mais profundo do mais longínquo dos mares. Mas Netuno /Possêidon recolheu-o e confiou-o a uma mulher etíope, a qual lhe deu a honra, quando já chegou à maturidade, de conceder-lhe a mão de uma das suas filhas. Mas, segundo contam as narrações daquele tempo, o rapaz -de nome Eumolpo- também desejava uma das irmãs da jovem. Como não pudesse satisfazer os seus propósitos de bom grado, decidiu fazê-lo à força e tentou forçar a donzela. Viu-se imediatamente perseguido pelos progenitores da jovem. Fugiu para a Trácia e dedicou-se a conspirar e a elaborar tramas de todos os tipos contra os seus antigos benfeitores. Mas também foi expulso de Trácia, devido à conflitividade que a sua presença criava nos governantes daquela região. Ao parecer refugiou-se em Eleusis e, talvez para ganhar o favor dos cidadãos desta cidade, propôs-se instruir a população nos mistérios de Deméter e Perséfone. Este mudança de atitude em Eumolpo serviu para que o seu antigo benfeitor, isto é, o rei de Trácia, o reconhecesse como o seu sucessor, depois de ambos se terem reconciliado. Sendo já monarca da Trácia foi reclamado pelos governantes do Eusis para que os ajudasse na sua luta contra os atenienses. Eumolpo acedeu a tal petição, não só para satisfazer aos seus novos aliados mas também porque pretendia para si o trono de Atenas. Quando se dirigia à frente do seu exército para o campo de batalha foi atacado pelos inimigos, que enfrentou em cruel combate e perdeu a vida.


COMPANHEIRO E CONTEMPORÂNEO

Há outros personagens trácios que todos os narradores citam com certa profusão. Alguns deles têm as mesmas qualidades e características que Orfeu, são como sósias do afamado músico. Tal é o caso de Mousaio, que as diferentes tradições consideraram algumas vezes como companheiro do herói e outras como seu amigo e contemporâneo; até se chegou a defender a tese de que Mousaio era filho de Orfeu. O certo é que este personagem singular teve certa importância entre os trácios porque era considerado um adivinho e um excepcional músico. Não obstante, deve a sua fama ao exaustivo conhecimento que tinha da arte de curar até as mais graves doenças. Era também um dos mais afamados recompiladores de oráculos daquela época; e conhecia todos os segredos e sortilégios necessários nos rituais iniciáticos e de purificação. Nesse sentido, é-lhe atribuída a introdução entre os trácios, e na Ática, dos mistérios do Eusis.