Criar um Site Grátis Fantástico
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese




ONLINE
2


Partilhe esta Página


luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

OS MITOS DA ETÓLIA
OS MITOS DA ETÓLIA

 

 

etólia

OS MITOS DA ETÓLIA


É sabido que Zeus teve outro dos seus apaixonados romances com uma Ninfa da qual até agora não parece que se tenha falado muito, a muito doce e admirável Cálice. Dessa fugaz e -supõe-se- satisfatória união nasceu o belo Endimião, um ser legendário que se converteria em rei de Elide pela força das armas. O poderoso herói que conseguiu o território, após vencer o anterior monarca, Clímeno, instalou-se no seu novo reino e viveu lá, felizmente casado com Crómia, e foi pai de quatro filhos, três homens e uma moça: Paeón, Epeos, Etolo (que é quem nos interessa mais de todos eles) e Eurídice. Mas, à parte da sua família oficial, e sem que a sua vontade nada tivesse que ver com isso, Endimião teve nada menos do que cinqüenta filhas com Selene, uma deusa que não pôde resistir o imenso atrativo do filho que Zeus se preocupou em criar com esmero, e adormeceu-o para ela, para que sempre permanecesse tão jovem e belo como quando o descobriu pela primeira vez, à luz da sua personalidade lunar, dormindo sozinho numa caverna do monte Latmos. Com a sua desaparição do mundo dos vivos, o trono ficou vazio e os quatro filhos lutaram por ocupar o cobiçado posto, dado que nada tinha escrito sobre a sucessão do rei de Elide. Afinal, e após uma corrida que serviu de arbitragem, Epeu ficou com a coroa e os outros três buscaram sorte em outros campos. Para Etolo, que se tinha dedicado, ao parecer, às corridas como adição atlética, a sorte foi complexa, dado que teve que ser um acidente, -atropelar os espectadores de uma competição- o que motivasse que Etolo, que entre a multidão de pessoas que havia à beira do seu caminho, teve a sorte, ou a pouca sorte, de atropelar e levar à sepultura a filha de Foroneu, Ápis, nessa corrida de carros que se celebrava dentro dos atos fúnebres por Azan, na estranha prova que o destino exigia para pô-lo à cabeça de outro reino. E foi assim que o involuntário culpado foi expulso do país e enviado para o norte do golfo de Corinto, para as terras que eram de um rei pouco conhecido, que diziam chamar Doro. Ora bem, Etolo, fosse pela razão que fosse, razão essa que nos é totalmente desconhecida, enfrentou esse rei Doro e os seus e conseguiu o poder na terra alheia, no seu lugar de desterro, dando-lhe o seu nome, para que já ficasse afirmada a sua posse. O seu reino foi, chamado desde esse momento e para o resto dos dias dos humanos, Etólia.


ENEU E ALTEA

Eneu foi outro famoso rei do território de Etólia, concretamente da cidade de Caledônia. Foi um soberano legendário, sobretudo porque dele se conta que introduziu, por mediação de Dionísio, a vide e o vinho na Grécia, que é tanto como dizer no mundo; esta presente de Dionísio também pode estar relacionado com o que se diz que houve entre o deus e a esposa de Eneu, mas foi um homem que não teve muita sorte com a sua vida, dado que não era feliz no casamento com Altea, se atendemos ao que nos contam sobre as complexas relações dos cônjuges entre si, à aventura de Altea com Dionísio, e às menos explicáveis reações de um ou outro deles com respeito aos seus três filhos. Ambos viviam, naturalmente, na sua cidade de Caledônia e eram um casal situado num tempo diferente ao de Etolo. Deste casamento nasceram três filhos, todos com essa rara mistura de desgraças e dons que a mitologia dá de um modo tão singular. Vejamos: o primeiro, Toxeu, não viveu muito, dado que Eneu decidiu matá-lo pessoalmente, sem vacilar um segundo, para lhe dar uma lição pela sua falta de delicadeza com a tradição da cidade e com os seus interesses militares, dado que Toxeu tinha-se posto a brincar sobre as amuralhadas defesas da cidade e, o que o pai não pôde suportar, terminou por dar um salto sobre a fossa que a rodeava, o que devia ter sido interpretado como um desprezo às escassas possibilidades estratégicas da fortificação e uma má forma de animar os inimigos do reino ao ataque. O segundo, Meleagro, foi um guerreiro que conseguiu imortalidade, mas teve um fim trágico, no qual a mãe teve bastante que ver, dado que ela própria se encarregou de maldizê-lo e fazer com que os seus dias terminassem nos infernos. A muito bela Dejanira também foi uma famosa filha do casal, pelo menos nominalmente, dado que se afirmava que era o fruto da união de Altea com Dionísio, embora Eneu não a desdenhasse como filha. Dejanira terminaria por ser -pela fraternal intercessão de Meleagro, quando se encontrou no inferno com o herói- a esposa de Hércules e protagonista de muito célebres histórias e, com certeza, outro personagem justamente marcado pela tragédia.


ATALANTA E MELEAGRO

Há que misturar à força a vida de Meleagro, filho de Eneu e Altea, com a de Atalanta, a donzela aventureira e altiva. E há que misturá-las porque o mito de uma e outro é o mesmo e único. Mas antes de chegar a esse encontro, deve-se fazer constar que Meleagro, uma semana depois do seu nascimento, recebeu a visita das Parcas. A sua mãe, a rainha Altea, foi informada de que existia uma possibilidade certa de ter um filho imortal e a fórmula dessa imortalidade era muito simples: bastava evitar que uma lasca de madeira se consumisse no fogo. Altea fez o aconselhado; foi à chaminé, tirou o citado pedaço de madeira de lá e guardou-o com todas as classes de precauções, evitando que alguém pudesse jogá-lo ao fogo por engano. Agora podia ter a certeza de que o seu segundo homem ia compartilhar a sorte dos deuses para a qual tinha sido eleito. E Meleagro cresceu e converteu-se num belo moço e num extraordinário guerreiro, de excelente destreza e pontaria com a lança. Meleagro foi, além disso, um rapaz bom, correto e disciplinado, mas nada disso importava para ser selecionado pelos deuses como vítima propiciatória de um esquecimento do seu pai, um pequeno descuido ritual de Eneu, que não reparou que esquecia o culto de Ártemis ao realizar as suas oferendas habituais da nova colheita, de que não incluía a deusa dos bosques entre os beneficiários dos primeiros frutos recolhidos. Quem reparou no esquecimento foi Hélios, o vigilante solar, que aproveitou a ocasião para ir com o conto à implacável deusa Ártemis. Nem Eneu nem nenhum mortal poderia ter imaginado que a deusa ia enfurecer-se com ele daquela maneira tão terrível como o fez e que, além disso, a sua fúria seria a causa do sofrimento eterno do seu único filho sobrevivente. Embora pareça cruel Ártemis, recordemos que não o foi menos Eneu ao julgar implacavelmente o primogênito Toxeu, castigando-o com a pena de morte pela sua brincadeira infantil, e não sentindo nenhum remorso ao executar a sentença com as suas mãos.


ÁRTEMIS MANDA UM JAVALI A ENEU

Ora bem, Ártemis decidiu castigar o rei de Caledônia enviando-lhe um javali impressionante que arrasasse os seus campos e matasse o gado, sem perdoar sequer aos pastores que cuidavam dele, ou aos pobres lavradores que trabalhavam nas terras de Etólia. E todo porque desses campos e desses animais de Etólia, o seu rei nada tinha recordado afastar e oferecer especificamente à furiosa Ártemis, ao passo que tinha chegado o seu correspondente turno ritual ao resto dos olímpicos. Eneu, embora não chegasse a compreender a razão da súbita e devastadora presença animal, desconcertado ao ver o que estava a acontecer no seu reino após a inesperada chegada da surpreendente besta às suas terras, fez o que costumavam fazer os reis das lendas antigas: procurar o voluntarioso caçador que estivesse disposto -pela sua honra- a acabar de uma vez por todas com o ataque do maldito javali, prometendo-se ao triunfador da perigosa missão pouco mais do que a honra de ser reconhecido como singular caçador da aterradora fera. E esse prometido reconhecimento real era somente um troféu, de pequeno, se não insignificante, valor material, dado que se tratava de outorgar, como prova do êxito perante o endiabrado adversário, o direito ao caçador de arrancar e guardar para si a pele e os dentes do animal caçado. O que não se apresentava como uma questão de grande envergadura, antes poderia parecer uma chamada de auxílio perante a impotência do rei e dos seus súditos, ia constituir-se na primeira causa de uma terrível desgraça, agora já anunciada, para o bom Meleagro.


A AVENTURA DE ATALANTA

De fato, foram muitos os caçadores de renome que se apresentaram à chamada do angustiado rei Eneu. Todos pareciam estar tremendamente interessados em converter-se em protagonistas desse combate com o feroz javali. Os cronistas não falam de Castor e Pólux, de Jasão, de Teseu, de Nestor, e de muitos mais nomes de personagens célebres. Mas quem mais nos interessa é a altiva e virginal Atalanta, uma donzela especialmente dotada para a caça, filha não querida de Jaso e Clímena, abandonada pelo seu pai (com a suposta cumplicidade da mãe) por não ser o homem tão desejado. Ártemis apiedou-se da menina e enviou uma ursa para a amamentar e cuidar dela até ser suficientementemente grande para poder começar a mover-se por sua conta.
Mais tarde, uns caçadores deram com a criatura e acolheram-na entre eles. Com essa companhia, a jovenzinha converteu-se também em caçadora, como os seus tutores e como a própria deusa Ártemis, que foi quem tornou possível que a abandonada Atalanta continuasse com vida. A jovem era muito bela e atraente, mas quer seja por estar sob a tutela de Ártemis ou por conhecer qual tinha sido a vergonhosa atitude do seu pai, se tinha convertido do mesmo modo numa inflexível virgem, e não deixava que nenhum pretendente se aproximasse nem remotamente dela, o qual se ia converter em peça essencial do seu mito, dado que esta afiançada aversão para com os homens foi a causa do que posteriormente se ia converter na sua lenda. Mas, voltando à chamada de Eneu, Atalanta também foi uma dessas personalidades que se mudaram para a corte de Eneu para se oferecer como caçadores do javali (precisamente enviada pela sua protetora Ártemis). A presença da jovem não foi demasiado bem recebida por algum dos bravos homens, que não viam com bons olhos tal rivalidade, máximo sabendo que Atalanta os podia deixar muito atrás na luta por alcançar a glória, mas o rei e, sobretudo o seu filho Meleagro, que ficou prendado pela beleza da caçadora, aceitou de muito boa vontade a sua participação, e começou a caça.


A CAÇA DO JAVALI

Antes de começar a expedição, Eneu festejou a presença de tantos nobres e famosos paladinos e, durante nove dias, no seu palácio encheu de atenções os assistentes à caçaria. Meleagro, o seu sucessor, que já estava casado com uma tal Cleópatra, filha de Idas, certamente por razões de Estado, não pôde evitar apaixonar-se perante a preciosa visão dessa única e excepcional mulher presente, que se denominava "o orgulho dos bosques da Arcádia", sem reparar que nunca poderia alcançar correspondência no sentimento da séria donzela, porque ela tinha decidido, com a claridade dos antigos seres legendários, nunca ter relação carnal com homem algum. E a caçaria começou com Meleagro só atento aos gestos e movimentos da caçadora, ao passo que esta, no seu desejo de ser cada dia mais e mais, só estava preocupada em alcançar e derrubar a sua presa. Mas a primeira jornada não foi nada pacífica; Hileu e Reco, dois centauros caçadores que se tinham incorporado à partida, decidiram atacar primeiro a bela Atalanta, pensando que com a sua força e experiência, poderiam facilmente reduzir a virgem, mais ainda quando os dois iam atuar conjuntamente, de modo que um seguraria a jovem enquanto o outro a possuía à sua vontade, e o segundo desfrutaria igualmente da ajuda do primeiro quando chegasse a sua vez. Atalanta pôde dar-se conta a tempo das suas intenções e deixou-os aproximar-se, ao mesmo tempo que simulava preparar-se para alcançar o javali. Quando estiveram suficientementemente perto, Atalanta disparou duas flechas quase simultaneamente: Hileu e Reco, alcançados pelos mortais dardos, deixaram de existir num instante e Atalanta, impávida após ter rejeitado o ataque, continuou como se nada tivesse sucedido, com a ideia fixa em conseguir o troféu prometido por Eneu.


O JAVALI A TIRO

Por fim deu-se caça ao javali, encurralado agora entre Atalanta, Meleagro, Anfiarau, Nestor, Peleu, Jasão, Ificles, Telamon, Anceu, Teseu, Euritião e outros. O javali matou e feriu três ou quatro perseguidores; pôs em fuga Nestor e terminou por ser acuado por um grupo que se fechava desordenadamente sobre ele. Ificles, o meio-irmão de Hércules, atirou a sua lança e quase não acertou no animal, mas fê-lo melhor e antes do que o resto dos seus atordoados companheiros de caçaria, dado que até Jasão falhou no seu tiro. Atalanta aproveitou a ocasião e, tensando o seu arco e apontando com precisão, conseguiu ser a primeira em cravar uma flecha no javali, embora só fosse na orelha do animal. O javali saiu correndo do lugar, não sem ter levado Anceu. Mas também tinha recebido outra flecha mais certeira de Anfiarau. A confusão era atroz, os presumíveis caçadores tinham-se ferido e até matado entre eles próprios, como sucedeu com Euritião, que foi morto por um erro de Peleu na confusão que seguiu os primeiros instantes. Finalmente, Meleagro acertou com uma flecha no javali, justamente de modo que pôde aproveitar o seu desfalecimento, aproximar-se dele e rematá-lo com a sua lança. Logo a seguir, o jovem apaixonado esfolou a besta e foi com a pele para Atalanta, declarando que era ela quem devia receber o troféu, dado que ela era quem primeiro tinha ferido a presa. A decisão de Meleagro levantou feridas entre os presentes. Todos tinham estado preocupados desde o princípio com a competência de Atalanta e agora Meleagro os humilhava duplamente, dado que o vencedor cedia desinteressadamente o seu prêmio e, o que era ainda pior, fazia público o triunfo da mulher caçadora, passando por cima deles e da sua honra de homens afamados.


A INESPERADA DISCUSSÃO PELA HONRA

Houve quem disse que a primeira ferida, embora mínima, era aquela produzida pelo tiro de Ificles, o filho de Anfitrião e Alcmena. Também dizia-se do arrogante Pléxipo, tio de Meleagro por parte da mãe, que ele, como parente de maior categoria, deveria ser o receptor daquela pele que Meleagro rejeitava, enquanto o seu outro tio, irmão mais novo de Altea e Pléxipo, insistia em que a honra devia recair em Ificles, pelas razões já expostas de ser o causador do primeiro sangue derramado. A estéril e vergonhosa discussão continuou subindo de tom, levada agora pelas vozes dos tios do caçador que tinha preferido doar o troféu à sua amada, sem que se tivesse colocado a possibilidade de contemplar tão vergonhoso espetáculo. Meleagro, não podendo agüentar por mais tempo a estúpida discussão dos seus tios, que não queriam dar-se conta da sua homenagem de amor para com Atalanta, nem sequer tinham a dignidade de deixar de reclamar o que ele, como vencedor, tinha legitimamente cedido, matou os seus tios sem pensar, resolvendo violentamente o litígio, recordando a todos que ele era, além do único triunfador, o único herdeiro da coroa de Caledônia. Mas Meleagro tinha morto os irmãos da sua mãe e esta não era uma pessoa que perdoasse. Como o seu marido Eneu, Altea não duvidava em antepor os seus princípios de rango sobre a condição paterno-filial e maldisse-o imediatamente, arrojando ao fogo o pedaço de lenha que guardava desde a infância como garantia da imortalidade do filho. Noutras versões do mito, afirma-se que Meleagro, agora alvo de ódio dos outros irmãos de Altea e Pléxipo, viu como estes se lançavam contra Caledônia, aproveitando que tinha sido proscrito pela mãe e que não podia levantar-se em armas para defendê-la. O ataque foi tão sangrento que Cleópatra exigiu ao marido que abandonasse a sua reclusão e se lançasse contra os assaltantes. Assim o fez, matando os outros tios restantes, e quase pondo em fuga a tropa inimiga com a sua atuação à frente das forças da cidade. A rebelde reação de Meleagro aumentou em maior medida o ódio da mãe para com ele. Altea, agora disposta por própria iniciativa a dar uma lição mortal ao filho, ou ordenada pelas Parcas a atuar desta forma, só tinha que fazer uma coisa: tirar a lasca de lenha do seu esconderijo e arrojá-lo ao fogo. Foi isso o que ela fez, e com o cavaco crepitando na lareira, de igual maneira se consumia a vida de Meleagro, até ficar acabado, e os seus inimigos puderam conseguir o controle da situação, ao ficar o oponente sem chefe e encontrar-se tudo preparado para a tomada da cidade. Esta versão da lenda diz que a parricida Altea, horrorizada por ver o resultado da sua ira, decidiu tirar-se a vida, enforcando-se até morrer. A quase esquecida esposa Cleópatra, sentindo-se também culpada pela morte de Meleagro nas mãos dos estratagemas da sua mãe Altea, por ter ela induzido a sair de proscrição e a tomar as armas então proibidas, também seguiu este caminho do suicídio por estrangulamento.


ATALANTA VENCEDORA

Fora da questão final tinha ficado Atalanta, quem se retirou da caçaria com a pele do javali (e certamente com os dentes, embora ninguém se incomode em contá-lo), sem recordar por um momento aquele Meleagro que tinha perdido a vida por amor a ela. O pai de Atalanta, o desapegado e incumpridor Jaso, estava agora orgulhoso da coragem e queria compartilhar a fama da sua filha antes por ele repudiada. Atalanta, que devia querer cair em graça a quem se pusesse do seu lado, foi ao palácio paterno para receber o desconhecido carinho familiar. Jaso queria que a filha fosse como as outras criaturas do seu sexo e para isso não há nada mais normal do que procurar-lhe um marido e fazê-la formar família. Atalanta, que não parecia estar disposta a perder o recém-conquistado afeto de Jaso nem a sua teimosa virgindade, não o contradisse, mas que introduziu uma cláusula mínima na procura de casal: casar-se-ia imediatamente com o homem que lhe ganhasse numa corrida a pé, mas se o pretendente não fosse capaz de lhe ganhar, ela mata-lo-ia com as suas mãos. Convém esclarecer que pesava sobre a jovem caçadora uma previsão anterior do oráculo de Delfos, que a advertia que o casamento para ela significava automaticamente a condena a ser transformada para sempre num animal selvagem. Sem saber nada sobre a maldição délfica, mas encantado por ter Atalanta disposta a obedecer-lhe nos seus desejos, Jaso aceitou a idéia do prêmio ou castigo proposta por esta filha tardiamente recuperada. Pôs-se em conhecimento de todos os jovens gregos a possibilidade de aceder à mão de Atalanta e foram também comunicadas as condições da seleção. Os imprudentes aspirantes à desafiante mão também não foram escassos: em breve começaram a produzir-se corridas entre vários pretendentes e a obstinada moça.


A VITÓRIA DO ORÁCULO

Como é natural, ao falar de pretendentes, ao falar de mais de um, que seria o definitivo, supõe-se que o resto dos adversários caíam fulminados pelas mãos da estranha dama, e assim era, dado que a corredora os arrematava com a sua lança no terreno da sua derrota, contente de livrar-se da maldição do oráculo de Delfos e depois de tê-los vencido sem demasiado esforço, pois até se conta que dava a todos uns passos de vantagem no começo da corrida, ciente da sua vitória e acrescentando um novo toque de desprezo para com os homens. E assim, vitória após vitória e morte após morte, Atalanta viu passar os dias e os anos. Até que chegou ao palácio um tipo muito diferente de competidor, o jovem Melanião, filho de Anfidamante (outros autores dizem que este personagem definitivo foi Hipómenes, filho de Megareu). Fosse lá quem fosse, o que se sabe é que ele tinha a inestimável ajuda de Afrodita, deusa do amor e da beleza, que lhe tinha entregue três maçãs de ouro para a prova, talvez porque, dada a sua adscrição à paixão e à intriga amorosa, não podia suportar as rígidas e frias donzelas vocacionais. Estabeleceu-se a data da corrida, que parecia destinada a ser uma de tantas, e ninguém dava uma moeda pelo homem. Mas, assim que começou a prova mortal, Melanião ou Hipómenes, fosse lá quem fosse, foi deixando cair uma atrás de outra as três maçãs de ouro, de modo que, sem parar de correr, tentava a jovem. Atalanta, por sua parte, aborrecida de competições e com o deslumbramento que se supõe que as jóias produzem em qualquer mulher, parou três vezes para apanhar as maçãs. Quando percebeu tinha perdido pela primeira e última vez a corrida e devia cumprir a sua parte do pacto, coisa que fez sem protestar e encantada de poder gozar, de uma vez por todas, das delícias do amor E foi tanto o seu amor que, um dia muito mais tardio, noutra jornada de caça, sentiu o casal renovadas ânsias de amar-se e assim o fizeram, mas dentro de um templo de Deméter ou de Zeus, procurando abrigo à sua sombra. O deus ou a deusa titular do recinto enfureceu-se com o que se considerava sacrilégio, e do céu desceu o castigo (como sempre, só o mal vem de cima) em forma de transformação do casal em leoa e leão, dado que se pensava então que os leões não se acasalavam entre si, dado que deviam fazê-lo com leopardos. Certamente, por ignorância dos olímpicos e os clássicos, Atalanta-leoa e o seu marido Hipómenes, ou Melanião-leão, deviam ter continuado desfrutando amplamente de uma paixão regular e satisfatória.


TIDEU, FILHO DE ENEU

Eneu casou, depois do suicídio de Altea, com Peribea, ou talvez fosse com a sua própria filha Gorgé, com quem teve a Tideu. A juventude deste filho de Eneu foi turbulenta; uns dizem que foi abandonado pelo seu pai, outros teve que sair de Etólia por causa de uma pendência. O caso é que chegou à corte de Adrasto, rei de Argos, e lá foi recebido como filho e recebeu Deípile, uma das suas duas filhas, em casamento (a outra, Árgia, foi outorgada a Polinices). Tideu depois dirigiu-se para Tebas, formando um grupo que seria conhecido como os Sete de Tebas, para reclamar de Eteocles o trono a favor do seu irmão gêmeo Polinices, com quem tinha pactado -e incumprido- alternar-se no trono da cidade. Eteocles não quis ouví-lo e Tideu desafiou os campeões de Tebas a um duelo, vencendo-os um a um, até acabar com todos eles. Entretanto, às portas da cidade, os sete chefes de Argos colocaram-se diante das portas da muralha, à espera da ordem de iniciar o assalto. Eteocles consultou o sábio Tirésias sobre a decisão que devia tomar e o adivinho respondeu que o sacrifício de um príncipe seria o remédio necessário para evitar que Tebas caísse nas mãos dos argivos. Meneceu, filho de Creonte, sacrificou-se pela cidade e o combate começou, com Zeus do lado dos tebanos e Atena apoiando Tideu. Mortos os chefes de Argos, incluído o corajoso Tideu, e mortos também os capitães de Tebas e igualadas as esgotadas forças, Polinices desafiou o seu irmão Eteócles para um combate decisivo que resultaria tão estéril como o tinha sido o confronto armado anterior; nesse combate final os dois irmãos morreram.


A DESVENTURADA VIDA DO HERÓI DIOMEDES

Tideu teve Diomedes com Deípile, um digno sucessor seu que começou a sua vida pública arremetendo contra os filhos de Ágrio, usurpador do reino de Etólia, para vingar a afronta feita ao seu avô Eneu. Após a sua prova de coragem, e tendo já contraído casamento com Egialea, Diomedes embarcou para a campanha de Tróia, onde destacou-se pela sua coragem, convertendo-se num dos personagens mais importantes do longo cerco, chegando a ferir Eneias em combate, a enfrentar o próprio Ulisses, a alcançar Afrodita com a sua lança, a entrar em Tróia em solitário para conseguir roubar o sagrado Paládio do templo e, finalmente, a ser um dos valentes que conseguiram entrar na cidade, escondido dentro do famoso cavalo de madeira, abrir as portas aos seus companheiros e terminar com os nove anos de resistência de Tróia. De regresso ao lar, encontrou-se com que a sua esposa Egialea lhe tinha sido repetidamente infiel e vivia com Cometo. Ainda não satisfeita, ou talvez movida pela rancor de Afrodita, a infiel agora perseguia-o com ciladas e traições, procurando uma e outra vez a sua morte, até fazer com que ele tivesse que fugir da sua terra, a caminho da Itália. Lá entrou ao serviço do rei Dauno, cujo apreço e confiança soube ganhar, até o ponto que o rei o casou com a sua filha Evipe e lhe deu poder para atuar como lugar-tenente seu, mas Afrodita perseguia-o incessantemente com o seu rancor, tramando todas as classes de males. Por isso, e apesar de ser seu genro, capitão vitorioso das suas tropas e pacífico fundador de numerosas cidades, o rei Dauno assassinou-o, enquanto se conta que os nobres companheiros do herói assassinado foram transformados em misteriosas aves que se mostravam tão amistosas com os gregos como perigosas para o resto dos seres humanos.


DEJANIRA

Hércules tinha prometido a Meleagro, quando se encontrou com a sua doente alma nos infernos, que desposaria a sua irmã Dejanira assim que regressasse à terra. Dejanira e Gorgé, talvez por serem filhas de Dionísio, foram as únicas irmãs de Meleagro que mantiveram o seu aspecto após a morte de Altea e Cleópatra, dado que Ártemis transformou o resto em aves. Ao cabo de alguns anos, quando Hércules estava de passagem pela Etólia, conheceu a Dejanira e afeiçoou-se por ela; era uma mulher atraente e corajosa, experiente na caça, que muitos perseguiam inutilmente, o terrível deus Aqueloo entre eles e o único que realmente apresentou oposição, mas Hércules venceu Aqueloo e Eneu lhe concedeu a sua filha em casamento, fazendo-a plenamente feliz, dado que o herói tinha-a maravilhado e, por outra parte, horrorizava-a o mutante deus-rio Aqueloo, que tomava a forma de serpente e de homem com cabeça de touro, ou aparecia como um furioso touro. Quando o centauro Neso se ofereceu enganosamente para levar a gentil Dejanira para o outro lado do crescido rio Eveno, com a rasteira intenção de raptá-la uma vez que Hércules se tivesse despojado das suas armas para atravessar a corrente, a reação do herói foi rápida e violenta: a uma distância que nunca outro ser humano alcançou com as suas armas, Hércules fez chegar a flecha que atravessou o corpo do raptor. Mas Neso, na sua agonia, disse querer dar, antes de morrer, uma peça de roupa pelo amor a Dejanira (uma poção elaborada com o seu próprio sangue para assegurar-lhe a fidelidade de Hércules), que ela guardou sem dizer nada ao marido. Decorreram os anos, o casal continuou a sua vida, e Dejanira deu cinco filhos a Hércules: uma filha chamada Macária e quatro homens, Hilo, Tesipo, Gleno e Hodites.


O PESAR DE DEJANIRA

Passaram mais anos e Hércules continuava percorrendo o Universo, participando em muitas e muito difíceis aventuras; mas nem as façanhas nem o lar lhe eram suficientes e menos ainda a sua esposa. À medida em que decorria o tempo, menos se contentava com uma única mulher, mantendo quase constantemente relações com diversas e mutantes acompanhantes, sempre mais jovens e frescas do que ela, e insistindo em meter em casa as suas amantes. A sofrida esposa considerou que era hora de aplicar o quase esquecido remédio de Neso a uma peça de roupa de Hércules, peça que este levaria consigo num sacrifício ritual, para torná-lo finalmente fiel. Quando o marido partiu, movida pela curiosidade, untou outra peça de roupa, comprovando, com espanto, que a poção era simplesmente uma última vingança do centauro, dado que a roupa encharcada no ungüento começou a arder. Mandou o Licas que corresse para avisar o Hércules do perigo que supunha utilizar aquela camisa para o sacrifício ritual, mas o mensageiro chegou demasiado tarde: Hércules tinha sido alcançado pela maldição de Neso e morria sem remédio; pediu ao seu filho primogênito Hilo que preparasse uma pira funerária no mais alto do lugar, e ele próprio se deitou sobre ela, disposto a acabar de uma vez com o horrível sofrimento, para passar com a sua alma para a eternidade do Olimpo, onde foi recebido, para surpresa de todos, como filho bem amado de Hera. Informada Dejanira do horrível acontecimento, tirou a vida, sem chegar a saber que Hércules tinha perdoado de coração o seu involuntário ato, dado que recebeu de Licas o aviso da sua esposa, e compreendeu imediatamente que a sua desgraça tinha sido o produto da vingança póstuma de Neso.