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luna

Muitos me perguntam sobre nossos caminhos... 

Muitos tem as sensações de ter andado por entre eles, mas ainda trazem dentro de si o medo da programação que nos impuseram sobre a bruxaria.... 

Porgramações de horror, de medo, de tortura, de rituais macabros onde sacrificios de sangue são feitos a todo o tempo... 
Não, a bruxaria nada tem a ver com essa programação, somos seres do Universo plenos em nossos caminhos de amor, de paixão e dedicação a Natureza, preservamos e amamos o que é mais lindo em nós... "A VIDA" em sua totalidade... 
A vida nos trás a liberdade de escolhas, de sentimentos e ações... e isso é ser bruxa... 
Ser livre, ter asas para redescobrir cada mistério oculto dentro de nós mesmas... quem somos na verdadeira essência... 
Relembrar, Reviver, Reafirmar, a vontade de ser Livre, correr, cantar, sonhar, se deitar sobre a relva em uma noite de luar e reverênciar com toda a emoção a Grande Criadora de tudo o que temos.... Nossa Grande Mãe... 
Carinhos... Luna de Haya... 

Nova camada...

DIONÍSIO /BACO
DIONÍSIO /BACO


BACO

DIONÍSIO /BACO


O pobre Dionísio nasce de má maneira e num mau momento; com certeza, como qualquer outro menino, deve ser considerado inocente de qualquer culpa, mas resulta que Dionísio é um dos muitos filhos bastardos desse deus máximo do Olimpo, mas grande mulherengo celestial que é Zeus. A sua mãe é a gentil Sêmele, a deusa da terra, a filha de Cadmo, rei de Tebas. Mas tudo isto só significa uma coisa: é um filho concebido fora do matrimônio, um a mais nessa multidão de filhos que Zeus tem fora da sua união oficial e escassamente respeitada com Hera. Também se sabe que Hera, já farta de tantas aventuras e infidelidades do seu esposo, persegue com afinco as mulheres que insistem em ignorar qual é o seu dever e como está a situação do pouco respeitado casamento entre os dois deuses. Mulheres que não se importam com essas relações ilícitas e que ajudam de bom grado o adúltero Zeus a manter a fama de amante clandestino. Mulheres que parecem recriar-se em fomentar a trajetória libertina do marido infiel. O que é pior é que Hera está disposta a tudo e não pára a pensar duas vezes qual é a pública resposta que deve dar às mães e às criaturas em questão. Portanto, não é de admirar que também não teça considerações quando decide cortar pela raiz a descendência bastarda, dado que a sua raiva também se dirige, de vez em quando, para os filhos ilegítimos. Por estas tão avessas razões, resulta lógico que Hera decida tomar represálias com o pobre recém-nascido, com Dionísio, e entre em contato com os Titãs e lhes ordene que dêem uma implacável lição, escolhendo desta vez a criatura como vítima do exigido sacrifício, para que o cruel exemplo sirva de advertência a qualquer outra deusa ou mulher que queira repetir a duvidosa façanha em tentar compartilhar com Hera o desfrute do corpo e da paixão do seu Zeus.


O CASTIGO CUMPRE-SE

Os Titãs, acostumados a vencer, matar, despedaçar, aniquilar ou levar ao cativeiro sucessivamente os inimigos dos deuses, os mesmos deuses, os deuses pais caídos em desgraça, a todos os deuses e a cada um dos habitantes do Olimpo e das suas imediações, sempre que assim lhe ordene a autoridade competente (que é muita e variada, a julgar pela amplitude da sua atuação na parte mais violenta da história celestial) levam a cabo a sua tarefa com eficácia e presteza. Esta encomenda de Hera, como é natural, é prioritária, dada a categoria mandatária, e é imediatamente cumprida. Os Titãs põem-se em andamento e vão para os aposentos onde repousa a estranha criatura, o menino com cornos que está adornado com uma coroa de serpente. Eles o encontram e rapidamente executam a primeira parte da sua missão, raptando a criatura do seu berço e despedaçando-a; os pedaços são colocados numa panela ao fogo, como se fôsse um guisado, e se deixam ferver num macabro processo durante todo o tempo que se quis, para que a destruição dos restos do menino fosse total, de maneira que ninguém pudesse encontrar alguma parte inteira da criança assassinada nem operar com os seus desaparecidos pedaços nenhum prodigioso milagre que permitisse a sua reconstituição. A única recordação que ficaria, era um pé de romã que brotou no lugar onde o cadáver foi esquartejado, uma romã que tinha germinado com o sangue inocente que regou o chão. Já parecia que todo esse terrível processo criminoso seria tal e como foi pensado no sinistro plano tramado por Hera. Pelo menos nem Zeus nem ninguém tinha interrompido o malévolo plano , ou manifestado oposição à conspiração.


A BOA AVÓ REA

Mas havia alguém que pôde ser testemunha do crime e operou a tempo, impedindo que o destino ficasse selado: a avó Rea, a mãe da vingadora Hera, e também mãe do inconstante Zeus. Foi a avó Rea quem acudiu rapidamente ao lugar dos pavorosos fatos, uma vez que os Titãs o abandonaram, considerando que o trabalho já estava terminado. E a boa Rea dedicou-se totalmente a recuperar os fragmentos do seu neto, e com eles conseguiu dar-lhe uma forma aproximada à qual teve em vida. A partir dessa massa de despojos, Rea recuperou o seu neto vivo e chamou depois o pai do menino ressuscitado, o seu filho Zeus, para que acudisse em sua ajuda; ele se ocupou de pôr o renascido Dionísio num lugar seguro, nas mãos de Perséfone, a moradora das trevas subterrâneas, a mesma que já tinha recebido outras encomendas parecidas, como aquela de ocultar e cuidar o menino Adônis, tarefa que tinha resultado ser tão problemática afinal, quando o adolescente Adônis levantou paixões que o conduziram à destruição. Mas este é outro caso, e Perséfone passou a responsabilidade para a rainha Ino e para o rei Atamas ou Atamante, para que eles se encarregassem de cuidar sigilosamente do menino Dionísio no seu reino de Orcómeno, escondendo-o entre as meninas, tratando assim de não levantar as suspeitas de Hera, que já estava a par da salvação e persistia em encontrar a criança, para terminar totalmente o seu empenho.

Efetivamente, a irada Hera persistiu na sua obsessão e passou o castigo para o real casal, fazendo com que Atamante enlouquecesse, e desse caça e morte a um suposto veado, que era o seu próprio filho Learco, ou que Ino tivesse que fugir do seu marido, levando Learco em braços, até que chegou à beira do mar e mergulhou nele, sendo salvo por um golfinho o desventurado Learco, ficando a branca mãe como padroeira dos marinhos perante as tempestades, instalada por vontade do Olimpo num novo posto muito diferente do que ocupava na sua vida terrena. Seja qual for a versão que se escolha, o que é certo é que Hera não é uma divindade que seja fácil convencer ou parar, uma vez que se tenha proposto levar a cabo qualquer das suas complicadas e avessas ações de represália, embora às vezes a vontade dos outros possa parar as suas maquinações, como passou com a primeira tentativa de fazer desaparecer Dionísio, ou como já teremos ocasião de ver na história de Ino e Atamante, quando outra vez a deusa não chegou a satisfazer os seus desejos de vingança.


POBRE SÊMELE APAIXONADA POR ZEUS!

Digamos que o mito de Dionísio se abre a muitos significados. Até agora demos uma das versões, mas também goza de prestígio a história seguinte: Sêmele, apaixonada por Zeus e, talvez, manipulada nas suas ânsias pela cruel Hera, pediu-lhe que fosse realizado um desejo muito especial. Sêmele queria contemplar o seu apaixonado no seu máximo esplendor, isto é, na forma de rei de todas as forças da eternidade. Zeus tinha prometido atender os seus desejos, fossem quais fossem, e cumpriu a promessa à risca. Apareceu magnífico, entre os raios e os trovões do seu poder; sem dúvida, a visão era impressionante, única, mas também mortal. A infeliz Sêmele caiu na cilada, astutamente induzida na sua vontade pela ciumenta esposa de Zeus, e a sua magnífica visão divina foi também a última. A deusa da terra, após ter visto Zeus, caiu envolvida nas chamas que ele provocava com a sua terrível presença. Zeus, abandonando rapidamente a representação do poder, impotente para remediar a triste sorte da sua amada, tinha resgatado Dionísio do ventre da sua mãe Sêmele, antes desta morrer. Depois de falecida a mãe, Zeus tinha levado o nonato dentro da sua coxa, que configurou como um extraordinário seio materno, para que completasse os três meses de gestação que faltavam e fosse possível o seu total desenvolvimento. Também se diz que Hefesto, senhor do fogo e avisado por Zeus, tirou Dionísio do ventre da mãe Sêmele, que estava sendo devorada pelas chamas, e levou-o para a segurança do mundo das Ninfas.


NA DOCE COMPANHIA DAS NINFAS

Seguindo com a primeira das lendas, com a de Dionísio sob os cuidados de Ino e Atamante no seu palácio; digamos, para completá-la, que o menino foi tirado de lá por Zeus, ao levantar-se a ira de Hera para os dois soberanos, ira que converteu os reis protetores em presas da loucura e tendo que procurar um novo e mais seguro refúgio, Zeus terminou esta parte da sua função paterna voando com o menino para um mítico lugar, situado em qualquer dos três continentes conhecidos, para pô-lo nas protetoras mãos de cinco Ninfas do belo e legendário país de Nisa, as boas e adoráveis Bromia, Baque, Erato, Macris e Nisa, as filhas de Atlas que se ocuparam de que Dionísio crescesse num ambiente de felicidade e tranqüilidade que o compensasse das passadas calamidades. Lá, em Nisa, o jovem descobriu a vindima e dela soube extrair o primeiro vinho. As Ninfas ganharam o reconhecimento de Zeus, que lhes assegurou um posto no firmamento como prova visível do seu agradecimento, a constelação das Híades.


HERA CUMPRE A AMEAÇA PENDENTE

Embora parecesse que Hera desistisse no seu empenho de perturbar a biografia de Dionísio, o que sucedeu era que tinha perdido a sua pista, mas quando o moço terminou a sua doce estadia com a tropa de Ninfas tinha-se convertido num ser adulto, extremamente parecido com o seu pai. Hera compreendeu então que aquele rapaz, de gestos excessivamente delicados, era o seu objetivo oculto durante tanto tempo. Reconhecido pela deusa, foi outra vez o alvo do seu rancor. Tinha vivido feliz por tantos anos, mas agora nada o salvaria do seu destino; havia chegado a hora de converter o seu refinamento em barbaridade e a sua delicadeza em rudeza. Por desejo de Hera, a loucura apoderou-se dele. Era uma demência que inverteria o retrato do personagem, transformando-o no terrível capitão duma esquadra de aterradores sátiros e ménades. Com eles começa Dionísio um novo capítulo da sua muito complicada existência: a vingança. E o seu plano começa pela destruição dos seus primeiros inimigos por delegação, os Titãs que tinham obedecido à primeira ordem de Hera, a de matá-lo junto do seu berço, e que tinham fracassado no seu cumprimento. Dionísio, bem armado e mais decidido pelo impulso da febril loucura, parte à conquista do mundo. Sem reparar, Hera tinha lançado à fama o seu inimigo, convertendo-o num verdadeiro e terrível deus, em alguém tão inumano e desmesurado como o resto dos estranhos povoadores das alturas, seres que costumavam navegar aos trancos e barrancos, entre a magnanimidade e a mais desprezível ruindade, como espelho que qualquer deus é dos humanos que o idealizaram.


A CAMPANHA DE EGITO

O exército de Dionísio chega às costas do Egito e instala-se na corte de Proteu de Faros. Leva ao rei, vinho como obséquio, aproveitando-se da sua situação, e começa a trabalhar em Faros na preparação da sua primeira campanha. Chama para a sua causa as amazonas do Egito, amazonas combativas por natureza, que vão servir-lhe de esplêndida força de choque.

Com elas e com a fúria da vingança, se lança à batalha contra os Titãs. A vitória chega depressa, pois é a confirmação do seu poder e categoria. Emulando Alexandre, o deus se coloca a caminho do coração do Este, cruza a Mesopotâmia, derrotando todos os seus adversários, e chega às Índias submetendo a península ao seu poder, mas não sem antes ter deixado a recordação da sua presença, com o cultivo da vindima e o segredo do vinho. Terminado o seu caminho nos confins do este, o triunfal Dionísio decide regressar para Grécia, o centro do mundo. Mas o retorno não seria tão rápido e simples como se pensava ao princípio, pois o seu exército vai ter que lutar agora contra as suas antigas aliadas amazonas, que esperavam dispostas para o combate na Ásia Menor, sem que se saiba bem porque é que as guerreiras quiseram fazê-lo. Aceita-se o desafio das amazonas e começa a sangrenta e insensata batalha. Dionísio dá a ordem de que seja uma guerra sem tréguas, em que as suas hostes vão terminar exaustas de perseguir e matar as amazonas, que em breve se vêem vencidas ,e, só um punhado consegue fugir e encontrar refúgio seguro no Efeso, pois o temível Dionísio enfurecido não sabe perdoar o precipitado e orgulhoso ataque inicial do qual foi objeto e mobiliza-se para conseguir o total extermínio das suas ex-aliadas, para que a sua morte sirva de inesquecível lição ao ousado que pense enfrentar a sua vontade.


LICURGO NÃO É TÃO FÁCIL INIMIGO

Na Trácia, pisando já o solo da Europa, e após ter recuperado a lucidez arrebatada por Hera nas mãos da avó Rea, Dionísio começa a compreender a razão dos seus atos e a origem de toda a sua desenfreada aventura militar. Mas nessa terra o exército de Dionísio toparia com um inimigo muito perigoso, com Licurgo, o pouco amado rei dessa terra tão dura e hostil. Licurgo soube enganar a curtida tropa, fazendo-a cair numa emboscada, deixando Dionísio sozinho e sem defesa possível diante dele, que o atacava com o seu machado de dupla lamina, disposto a acabar com a sua aventura militar. Dionísio reparou que tinham mudado as coisas e já não podia contar com as suas hostes de sátiros e ménades e não teve mais remédio que abandonar o campo de batalha e fugir para o mar para se salvar, como fosse, do que podia ser o último ataque do seu perigoso e astuto inimigo. Na morada de Tétis o admirado Dionísio encontrou esconderijo, ainda sem se repor da surpresa dada por Licurgo à sua tropa. De novo, a boa avó Rea chegou em ajuda ao seu neto e conseguiu libertar os seus originais soldados, ao mesmo tempo que punha o rei Licurgo no temível território da loucura, com essa repetida manipulação que os deuses fazem das mentes dos mortais. O rei, perdida a razão, utilizou o terrível machado contra o seu filho, tomando-o por uma videira, por essa planta representativa de Dionísio, e como tal, foi podando os membros do seu filho Driante, em troços, no seu afã de acabar com o deus. Dionísio saiu do seu esconderijo marinho e encontrou-se com a libertação da sua gente, com a morte cruel do filho do louco rei e com uma terra amaldiçoada pelo sangue inocente vertido na morte de Driante. Perante o desespero dos trácios, o deus apiedou-se da sua desventura e prometeu-lhes que se repararia o mal causado por Licurgo com a maldição das deusas. Bastava, para que a terra voltasse a ser fértil, lavá-la com o sangue culpado de Licurgo.


AS DUAS MORTES DE LICURGO

Conta-se que os trácios, como já dissemos, nunca tiveram motivos racionais para querer o seu soberano, aproveitaram o conselho divino e decidiram dar-lhe uma morte terrível. Arrojaram o demente entre os cavalos selvagens, e as bestas demoraram pouco em trucidar o réu louco no alto do monte Pangeu.

Cumpriu-se o desejo do jovem deus, restabelecendo no seu sangue o poder germinativo das terras de cultivo e o povo depôs o malvado rei, que pouca oposição já podia apresentar ao rancor dos seus exauridos súditos. Mas também se diz que o rei Licurgo não enfrentou o poderoso general vitorioso e o deus enlouquecido, senão que tentou matá-lo e às suas gentis protetoras, quando era simplesmente um menino, estando ainda nas mãos dessas bondosas Ninfas, das Híades. A criatura saiu correndo para o mar, para se refugiar, também nesta ocasião, na gruta de Tétis. Nesta versão do mito, Licurgo também era um ser odiado, mas não só pelo povo impotente, senão pelo Olimpo em pleno e não é de admirar que Zeus, defendendo de novo o seu filho e as cinco maternais Ninfas, use as armas da sua panóplia divina e lance com mão certeira o raio nos olhos do covarde rei. Esse divino raio de Zeus deixou instantaneamente cego o monarca, iniciando-se desde esse momento a sua terrível e irremediável agonia. Enquanto isso, Dionísio ficava a salvo e podia voltar junto das suas queridas Ninfas, para continuar libando o delicioso manjar de delícias que lhe servia de alimento exclusivo, para continuar com o seu ciclo de passagem da infância à adolescência divina, outra vez milagrosamente a salvo da sucessão de calamidades que se tinham sobre ele abatido desde o mesmo momento da sua concepção.


O VINHO NA ICÁRIA

Após o incidente com Licurgo, o sossegado Dionísio, agora já mais tranqüilo, tendo recuperado o juízo, convertido num jovem maduro à força, passou a percorrer o seu mundo, a Grécia clássica, com uma missão muito diferente da guerreira que o tinha levado até às Índias. Tratava-se de dar a conhecer a todos os bons homens, a existência da vindima e a bênção do vinho, e com essa bagagem de felicidade agrícola chegou até as terras da Icária. Dionísio ensino ao seu soberano o cultivo da uva e a elaboração dos vinhos, com tão bom resultado que o seu rei Icário conseguiu o primeiro vinho produzido pelos seres humanos. Entusiasmado pelo êxito da colheita e pelo excelente sabor dos seus vinhos, Icário foi por todo o reino convidando generosamente os seus súditos a desfrutarem do vinho recente. Beberam os locais em abundância e pouco tempos depois sentiram-se surpreendidos pelos estranhos efeitos que aquele vinho lhes produzia. Estavam alegres e confusos; sentiam ao mesmo tempo o terror do enjoo crescente e a perda da visão, mas a sua euforia e a perda da consciência também aumentava com o vinho. Para explicar essas desconhecidas sensações, disseram-se possuídos por algum poder desconhecido e quiseram acreditar que tinham sido envenenados por Icário, sem poder sequer chegar a suspeitar que eram eles os primeiros seres embriagados do Mediterrâneo. A sua reação foi expeditiva: matar quem os tinha enfeitiçado de tal modo, o bom rei Icário. Após assassiná-lo, os camponeses decidiram sepultar o seu corpo sob um pinheiro, para ocultar o fato, do qual agora, uma vez passados os efeitos do vinho, começavam a assustar-se e envergonhar-se. Assim o fizeram, julgando ter encontrado a fórmula para escapar da sua responsabilidade, e depois foram para a beira do mar, fugindo do local do crime.


O DESESPERO DE ERIGONE

Maira, a fiel cadela do rei Icário, assistiu impotente a todo o macabro processo e, ao ver o amo enterrado, correu à procura da sua filha, a quem arrastou, puxando às mordidelas por sua túnica, até à sepultura do seu pai. Lá a cadela, com as suas patas, começou a escavar a terra recém amontoada, até que surgiu perante os olhos da filha, com brutal claridade, a razão da desaparição do seu pobre pai. Erígone, vendo aquilo, caiu em desespero. Nos galhos do mesmo pinheiro que dava sombra à descoberta sepultura a jovem enforcou-se. Ao expirar Erígone, quiseram os deuses que a sua mesma morte se estendesse por Atenas como aviso do crime que tinha ficado sem castigo. Por essa vontade divina, outras muitas jovens, sem chegar elas mesmas a saber porque é que o faziam, tiravam a vida simultaneamente, enforcando-se sem razão conhecida em diferentes lugares da cidade, até que os deuses fizeram saber aos homens, através das revelações do oráculo de Delfos, que Ícaro e a sua filha Erígone tinha sido morto pela injustiça dos camponeses, e que era necessário que a vingança caísse sobre os culpados. Uma vez descoberta a razão daquela onda de aparente loucura suicida, que a essa altura se tinha abatido misteriosamente sobre as donzelas, os executores atenienses chegaram às terras da Icária e deram morte aos que tinham covardemente assassinado ao seu rei Icário. Após o castigo aos culpados, instituíram-se as festas em honra de Erígone, nas quais se comemorariam para sempre as bondades do vinho de Dionísio, o sacrifício de Erígone e o martírio de Icário, pendurando-se simbolicamente as jovens celebrantes nos ramos dos pinheiros ou de qualquer outra árvore robusta que houvesse no lugar, como uma festiva e incruenta comemoração do acontecimento que foi a causa dessas festas dionisíacas, da obtenção da primeira colheita de vinho e do estupor dos homens perante os seus poderes.


NAS MÃOS DOS PIRATAS

Segundo nos conta Homero, estava Dionísio navegando entre as dúzias de ilhas do Egeu, e encontrava-se descansando sobre as rochas da costa, quando foi avistado por uns marinheiros que passavam nas proximidades. Os marinheiros, que eram traficantes de escravos, viram no belo jovem uma presa de grande valor e decidiram a sua captura. Lançam âncoras lá mesmo, dirigem-se para o lugar onde Dionísio está placidamente deitado e submetem-o à força, levando-o prisioneiro para bordo. O piloto da nave pirata adverte que está perante um deus e diz aos seus companheiros. Os piratas se riem do conselho e levantam âncoras, contando já com os benefícios que lhes vai aportar a venda de tão belíssimo escravo. Dionísio observa divertido a cena dos marinheiros para as palavras do assustado piloto e deixa tranqüilamente que passe o tempo. Depois, com a ironia de um deus, opera sobre a nave alguns prodígios pessoais. Em primeiro lugar, faz com que o melhor dos vinhos se derrame no convés da pequena embarcação e o percorra de um lado para o outro, como se o mar mesmo se tivesse transformado em vinho e cobrisse a embarcação. O mastro principal da embarcação cobre-se de folhas de parreira e de ramos de hera e já não resta dúvida: os horrorizados piratas compreendem imediatamente que o piloto não tinha falado em vão, que aquele jovem maravilhoso era um verdadeiro deus e que eles se tinham enganado totalmente no seu propósito de apoderar-se dele, pois agora eram eles os que estavam nas suas mãos e nada podiam fazer para fugir da embarcação, transformada em cilada mortal. Querem regressar para terra firme, mas já não há tempo. Dionísio converte-se numa fera após outra, até se lançar sobre o capitão dos piratas e destroçá-lo à vista dos seus sequazes. Já parece que só lhes resta tentar pôr-se a salvo no mar, e ao mar se arrojam; mas Dionísio não vai deixar que saiam com a deles e assim que tocam a água, os piratas convertem-se em golfinhos, lá ficando para sempre. Somente o piloto, o único que soube ver o deus como tal, é excluído do castigo do divertido Dionísio, que deixa o pobre homem ir em paz , para que seja ele quem conte aos homens tudo o que viu e viveu, como o deus soube vencer a inimigos tão estúpidos e como se riu deles e da sua maldade. Mas Dionísio também aproveita a travessia e desembarca na ilha de Nexos, onde se encontrará perante um fato de muita importância na última parte da sua história como deus sobre a terra.


ARIANA, A PERFEITA ESPOSA

Ariadna, a filha do rei Minos de Creta e também neta de Zeus, tinha ajudado Teseu a encontrar a saída do labirinto do Minotauro, com a inestimável ajuda do seu fio. Mas este herói legendário e desagradecido abandonou-a à sua sorte na ilha de Nexos. Lá, nessa ilha de videiras e vinhos, Dionísio encontrou-se, ao desembarcar da sua aventura com os malfadados piratas, com a presença inesquecível da bela Ariadna, adormecida sobre a areia da praia, tão bela que encarregou ao ferreiro olímpico, Hefesto, uma coroa de ouro que fosse parecida com a sua beleza. Acordou o apaixonado Dionísio a Ariadna e, entregando-lhe o diadema, fê-la a sua esposa. O seu casamento foi feliz e traduziu-se na culminação da sua complicada vida sobre a face da terra. Com ela, Dionísio teve os seus seis filhos, Enopião, que seria rei de Clio; Toante, mais tarde rei da Táurida; Estáfilo; Latramis; Evantes; e Taurópolo. Já estava terminada, pois, a aventura do deus e podia ocupar o seu posto no Olimpo. Héstia cedeu-lhe para sempre o seu, naquele círculo restringido dos doze grandes deuses. Já confirmado como divindade de primeira linha, Dionísio demonstrou que não tinha esquecido a sua pobre mãe, a infeliz Sêmele, e desceu à sua procura aos infernos, para resgatá-la de mãos de Hades e fazê-la desfrutar na eternidade do que, em vida, lhe tinha sido negado. Com ela voltou Dionísio do Tártaro, após ter conseguido da esposa do rei dos infernos, de Perséfone, que lhe fosse concedida a liberdade. Regressou, pois, à glória divina o filho e a sua mãe, não tendo Hera mais solução que reconhecer e suportar a derrota final, aceitando a presença triunfal de Sêmele a seu lado, dado que já Dionísio estava à sua altura, na cima do Olimpo.


OS ROMANOS E BACO

Para os romanos Dionísio foi Baco desde os seus primeiros contatos com a cultura e a mitologia helena, dado que, pela causa que se preferira, escolheram o seu apelido grego em lugar do seu nome próprio e daí ficou em "Bacus", ou "Baco", como nós o conheceríamos muitos séculos mais tarde. Com ele chegaram o vinho e as festas religiosas que, convertidas numa desenfreada desculpa para levar a sua celebração ao máximo, se transformaram nos bacanais, festas privadas que se converteram em breve num ponto escandaloso, apesar de que Roma já conhecia muito bem os excessos dos poderosos e também o seu fácil contágio entre as classes mais pobres, enriquecidas com o crescente auge do império e sempre desejosas de poder gozar do seu adquirido poder de cidadãos da primeira potência da orbe. No ano de 186 aC, o Senado romano promulgou uma lei que proibia a celebração dos bacanais e tratava de remeter o culto de Baco ao seu ambiente sagrado. Reduziu-se um pouco a publicidade das festas, mas a idéia básica já tinha penetrado profundamente nas cidades e nos campos imediatos e esqueceu-se totalmente o antigo sentido agrícola. Rodeado pelos atributos báquicos por excelência, uvas e vinho, o festejo mais ímpio de Baco, centrado na imitação do desenfreio adolescente do deus, com o álibi de ser a recordação dos seus sátiros, das suas ménades e das alegres correrias sensuais e sexuais do deus enlouquecido pelo prazer, continuou existindo até os últimos dias de Roma, máxime quando a cruenta sucessão de imperadores e as lutas entre pretorianos levou à descomposição do império e à perda dos bons costumes primitivos, fazendo com que o escândalo inicial não tivesse o menor sentido. Baco seguiu também com a parceria do filho de Dionísio e Afrodite, de Príapo, e os jovens faziam-se publicamente adultos à sombra do novo deus fálico.


O MISTÉRIO DIONISÍACO

Noutra zona muito remota do culto ao deus, Baco permaneceu também em Roma ligado aos ritos misteriosos, como tinha sucedido na Trácia com o culto a Dionísio-Zagreu. É a outra zona, a muito pessoal da religião sentida em profundidade e praticada com convencimento, do culto realizado em privado e acompanhado por um desejo proselitista; é a zona delimitada pela ânsia de estabelecer uma moral de validade universal, dirigida para a consecução dos valores prometidos do céu, através da religião da vida eterna, do culto à morte e à ressurreição posterior. Desse culto às almas imortais e da ascenção da última possibilidade, para todos, de alcançar a eternidade, vai derivar uma liturgia intimista, uma mística muito diferente dos cultos abertos e públicos, do panteísmo agrícola. Agora centra-se o culto e a crença, na purificação constante, nas etapas sucessivas duma série de vidas, de reencarnações, que vão conseguir o Sono órfico de reunir a alma libertada com Dionísio-Zagreu. Este culto órfico da longa procura da eternidade situa-se em Roma junto com os de Deméter, Serapis, Cibeles, Mitra e Ísis e Osiris, dentro do enorme mostruário da importância espiritual que aponta a necessidade, que vai crescendo entre os romanos, de encontrar uma explicação ao mistério da vida, um sentido à existência, numa sociedade que conseguiu um nível cultural e material muito elevado e chegou à crise moral, à exploração das soluções aos mistérios que a liturgia oficial, pragmática, não pôde ou quis resolver senão no seu aspecto exterior.


BACO NA ARTE

Passado o período original, no qual Dionísio ou Baco, à parte das belíssimas esculturas, tem um tratamento ligeiro, dado que basta adornar o tronco de uma árvore para celebrar uma festa ao seu redor, como deus que é da natureza, chega a tristeza do cristianismo e a sua obsessão pelo milênio e pelo fim do mundo. Há que esperar que surja, após o maior dos esquecimentos, a feliz chegada da frescura e da permissividade nas artes, com a renovação do Renascimento e a explosão do Barroco, renasce também a exaltação do grato, do tramado secretamente durante séculos, e Baco é um dos temas resgatados do passado para enriquecer a atmosfera artística do presente. Assim como os cultos e o prestígio dos grandes deuses clássicos servem de pretexto para glorificar os estadistas e de ornato às grandes mansões cortesãs, os relatos pictóricos desse festivo deus Baco e dos seus inseparáveis bacantes são um motivo alegre que passa a fazer parte de outra classe de estâncias ou de mansões. As alegres pinturas e afrescos, a cores e com generosidade de volumes nus, de improváveis bacanais ou de desejáveis e inspiradoras orgias, são só uma remota e invejada forma de ver o prazer de longe, de um presente que utiliza esses motivos com a desculpa da recuperação da cultura perdida, mas que gosta de sonhar com a perda da possibilidade de restabelecer, embora seja só num clube fechado e a uma escala muito menor, as imensas possibilidades dessas multidões saborosas e sensuais. O vinho, para maior realce do agradável e maior insistência do abandono aos prazeres carnais, é o outro atributo que vem completar o quadro barroco de Dionísio, agora definitivamente transformado no seu sucessor Baco, com a incomparável companhia de sátiros e ninfas, numa cenografia fresca e saborosa, orlada de videiras e de parreiras, cheia de brilhantes corpos juvenis, em plena exaltação da liberdade formal e quase totalmente desenfreada. Estas impensáveis festas pagãs, quase selvagens, que se incorporam com liberdade às artes decorativas domésticas, supõem também o primeiro passo para a permissividade da sociedade, embora seja de uma magnitude muito maior a conseguida dentro do âmbito reduzido das classes dominantes e a liberdade transmitida só marginal, ou a tolerância sentida entre a mais numerosa e despojada maioria. Após o Barroco, o bom Baco termina por perder o seu atrativo e é um dos deuses maiores que antes desaparece, ou quase, para permanecer como uma alegoria longínqua, apenas misturado com os tópicos do vinho e da ebriedade, sem que já se recorde mais o grande deus Dionísio, o deus das almas em paz e felicidade.